Livro Diálogo de Luz

Livro escrito por Carmem Paiva, GMLS da Ordem Estrela Guia, uma religiao ocutista iniciática fundada por ela, com ramificaçoes no Brasil e em diversos países da Europa e Oriente.

sábado, 31 de janeiro de 2009

Diálogo de Luz - Lançado em 2002



Diálogo de Luz


Uma abordagem dos temas mais importantes da vida nos vários planos de existência



IMPRESSO PARA CIRCULAÇAO INTERNA NAS OFICINAS DA OEG AMERICA LATINA 2002

Prefácio
Neste livro pretendo reunir uma síntese das perguntas mais freqüentes, feitas à mim por aqueles que, em todos os tempos, se interessaram em enveredar pelos caminhos da espiritualidade e do ocultismo. Porem, não levo avante este trabalho, que acabou mostrando-se extremamente árduo, com o desejo íntimo de não mais responde-las, mas por achar que nestas conversas abordamos temas que muito importam às pessoas que buscam uma compreensão melhor da Vida.
Boa parte das perguntas se deve ao fato de vivermos numa sociedade repleta de dogmas religiosos, mas também à uma divulgação desordenada, e não poucas vezes incompleta, de temas esotéricos, espiritualistas e pseudo-ocultistas, nos últimos quinze anos.Parte desta explosão na divulgação era esperada, devido a Era de Aquário, anunciada com muita antecedência, mas muito mais devemos creditar na conta do mercantilismo. Pessoas com muito pouco, ou quase nenhum conhecimento, se aventuraram pelos caminhos da religião e do esoterismo, e sem nenhum escrúpulo, acabaram por deturpar publicamente a imagem da sabedoria sagrada e de muitos conceitos milenares, mal compreendendo que a Verdadeira Ciência é sim o cálice de mel mas que também transforma-se em fel na boca dos profanadores que não a respeitam e dela pretendem tirar vantagem.
Por sua vez, as pessoas comuns andam ainda mais confusas com o que se formou em torno de uma montanha de livros, teorias indecifráveis e salas decoradas com finos artigos orientais onde invocações em latim, anjos, cristais, paranormalidade, Cabala, I Ching, Feng Shui, Yoga e Xamanismo se misturam num sincretismo, tão inacreditavelmente peculiar, quanto estranho.
A Ciência Sagrada não é uma colcha de retalhos desconexos, é uma ciência antiga e densa, plena de sabedoria e de lógica. Seus verdadeiros neófitos trabalham pela unidade e não pela divisão. Não se pode ser uma coisa aqui e outra ali, não se pode acreditar num Deus Impessoal e ao mesmo tempo pedir que ele interceda por nós.
Por isto acatei os muitos pedidos que me foram feitos para escrever este livro, porque este sim é um desejo pessoal: que a Ciência Real seja tirada das mãos daqueles que não a merecem e que os leigos percebam que aquele que percorre hoje este caminho, como percorreram antes Zoroastro, Hermes, Sócrates, Platão, Cristo, Aristóteles, Paracelso, Agrippa, Apolonio, e Apuléio, entre outros, não procura bens para si, que não seja o maior bem do universo: A Sabedoria Divina.
Para realizar esta tarefa de conscientização, as pessoas comuns devem tomar conhecimento de como pensamos, qual a idéia que fazemos do mundo, o que julgamos importante não somente para nós mas também para toda a humanidade.
Os tempos hão de se acalmar e o Sagrado voltará ao seu lugar de Origem, à sua Realeza atemporal e, às pessoas que quiseram toma-lo à força, restará uma experiência amarga e certamente inesquecível.
Como para tratar de tantos assuntos, mesmo de forma superficial, tornaria o presente livro algo cansativo, achei por bem elabora-lo na forma de um diálogo, uma conversa entre um neófito recém admitido e seu mestre. Por fim, gostaria de salientar que nenhum assunto se encerra com este livro, quando muito ele pode servir de bússola à indicar um caminho porque muitas outras descobertas poderão ser conseguidas se não se tomar ele como dogmático, defeito que nunca pretendi imprimir nele.
A melhor diretriz para aquele que busca a sabedoria é não ser céptico mas questionador e analítico. Coisas que parecem simples, na maioria das vezes, encerram conceitos altamente complexos, perguntas que aos ouvidos de muitos soam hereges, são na verdade o exercício da liberdade intelectual no afã de melhor compreender a vida e tudo quanto a rodeia.

Carmem Paiva

Primeira Parte - Sobre Deus, Alma, Espírito, Corpo e Morte.

Deus é uma esfera,
cujo centro está por toda parte,
e a circunferência em parte alguma
(Hermes Trimegisto)

NEÓFITO: Gostaria de saber se posso fazer perguntas sobre qualquer coisa?
MESTRE: Claro que sim, quanto à responde-las, devo respeitar os princípios da Ciência Sagrada e existirão momentos nos quais não poderei me aprofundar devido ao seu estado de consciência.
NEÓFITO: Porque é comum que se compreenda Deus como um ser ?
MESTRE: Lembro-me de um comentário à este respeito que acho belíssimo: “Se um triângulo pudesse falar e raciocinar, faria igualmente um Deus triangular, e um círculo o faria circular – Todos transfeririam para Deus os seus próprios atributos.”
A maior parte da humanidade transfere seus atributos para Deus, tornando-o assim, falível e limitado.
NEÓFITO: Sempre imaginei que fosse possível descobrir uma característica comum em todas as coisas e em todos os seres, uma vez que acredito que Deus está presente em tudo. Existe algo que o identifique?
MESTRE: Deus é a Essência Vivificadora, sem a presença Dele nada tem vida. Ele se manifesta através das coisas e das pessoas. Deus é incomensuravelmente vivo e presente. Quando um ser absorve interiormente esta consciência, pode manifesta-lo de maneiras extremamente maravilhosas.
Deus está presente em tudo, porque em tudo há vida, numa pedra, num cristal e em tudo que você puder imaginar, há vida.
NEÓFITO: É no mínimo estranho saber que Deus pode se manifestar através de mim.
MESTRE: Não existe conceito que fugindo à razão possa estar correto. A idéia desta manifestação pode lhe causar estranheza, mas tente lembrar de momentos em que você fez ou falou coisas boas e generosas, coisas que estavam acima do que você falaria ou faria, devido a vida que normalmente se tem. Nestes casos, após o fato, não só você, mas todas as pessoas que acabam de manifestar Deus, ficam orgulhosas de si, sem que saibam o motivo deste orgulho próprio repentino.
NEÓFITO: Mas sendo impessoal, como Ele poderia manifestar-se desta maneira?
MESTRE: Todos podem aceitar a impessoalidade de Deus mas deveriam compreender que disto se desprende a idéia de que, em sendo assim, ele se manifesta em todas as coisas. Por isto mesmo, o bem, o que é correto, o que é bom, está sempre presente em todas as pessoas, sem que precise ser ensinado porque todas estas virtudes representam o equilíbrio perfeito.
Costumo citar uma situação para exemplificar como Deus pode se manifestar nas pessoas, e apesar de existirem muitos que eu poderia dar, quase sempre uso mesmo porque é uma situação corriqueira.
NEÓFITO: Qual é esta situação?
MESTRE: Imagine-se numa estrada escura, a centenas de quilômetros de qualquer coisa conhecida e com um pneu furado. O macaco do seu carro não funciona à despeito de tudo que você tenta fazer. Instintivamente você pede à Deus que lhe ajude. Momentos depois alguém pára, cinqüenta metros à frente. Seu coração dispara, imaginando que agora pode se tornar vítima de um assalto ou de uma atrocidade maior. O motorista vem em sua direção e mal você consegue distingui-lo na escuridão. O pouco de coragem que lhe resta é usada para pedir que lhe ajude. Mais alguns minutos e seu carro está de novo em condições de leva-lo para bem longe daquele lugar sinistro. É de praxe agradecer às bondosas pessoas que cruzam o nosso caminho nas horas difíceis, com um “Deus lhe pague” e vai-se embora. Talvez você nunca venha à perceber que foi Deus, em pessoa, que lhe socorreu, porque se existem qualidades que não suspeitamos vir de outro que não seja de Deus, são a generosidade e a bondade gratuita. Em determinadas situações, Deus não pode manifestar-se se não for através das pessoas. Toda a natureza manifesta Deus e todas as pessoas tem condições muito especiais para a manifestação divina justamente porque ela é impessoal.
NEÓFITO: E porque se tornam generosas e bondosas? É a natureza da emanação divina?
MESTRE: Porque o Amor é a essência de toda energia divina. A energia tende sempre para o equilíbrio e o Amor é a união equilibrada de toda a energia e sendo assim, manifesta-se no homem através da Alma Individual.
NEÓFITO: Então esta é a Alma de que tanto se fala em várias religiões?
MESTRE: Normalmente se referem à alma individual, ou seja, a que todas as pessoas tem, mas as vezes referem-se à Alma Universal e algumas vezes ao espirito.
NEÓFITO: E o que é a Alma Individual?
MESTRE: A Alma Individual é a parcela divina que todas as pessoas tem; é o conhecimento de todas as coisas em si. Ela é uma partícula da Alma Universal, do Logus, do Atma. É a menor parte, resultado da divisão ao infinito, da Alma Universal e que, por isto mesmo, é o canal que liga o espírito à Alma Universal.
NEÓFITO: E o que é a Alma Universal?
MESTRE: É a somatória de toda energia, seu princípio, suas diversas formas e seu habitáculo. Se quiser definir religiosamente, é Deus, o Alfa e o Ômega, o princípio e o fim de todas as coisas.
NEÓFITO: A Alma Universal é a Mente Universal?
MESTRE: As pessoas usam muitos nomes para uma mesma coisa, assim, Alma do Mundo, Mente Universal, ou Prana, são alguns dos nomes usados em diversas épocas para nomea-la, mas é importante frisar que a Alma Universal é muito diferente do que chamamos de Inconsciente Coletivo.
NEÓFITO: Realmente é um problema sério de nomes e definições porque eu já estava pensando que a alma universal era o mesmo que inconsciente coletivo.
MESTRE: Por isto me adiantei à sua pergunta, é muito comum que se pense isto mas enquanto a Alma Universal é o que podemos chamar de Divina, o Inconsciente Coletivo é composto por todas as correntes de pensamento que interagem no campo vibracional da Terra. Poderemos nos ocupar dele depois para não fugirmos do assunto.
NEÓFITO: Se pudéssemos comprovar que a Alma individual provem da Alma Universal, poderíamos então concordar que somos a imagem e a semelhança de Deus.
MESTRE: A consciência pode muito bem fazer isto se achar necessário mas podemos comprovar de várias maneiras. Podemos tomar emprestado da engenharia genética o DNA que é o código que está presente em todas as minúsculas partes de um ser e que possui todas as informações que possibilitam sua identificação e a reprodução de seres com características idênticas. Assim é a Alma Individual que nos faz a imagem e a semelhança da divindade.
NEÓFITO: Então, se a Alma Individual é o canal de ligação do espirito com a Alma Universal, alma e espirito também não são a mesma coisa?
MESTRE: Não, são totalmente distintos. O homem é a junção do espirito, da alma individual e do corpo. A alma individual é a parte celestial, o espirito, como o próprio nome já diz, é a parte espiritual e o corpo é a parte material: esta é a trindade que forma o ser humano.
NEÓFITO: Quando ocorre a morte física, o que acontece com a alma e com o espirito?
MESTRE: Você bem disse, a morte é só do físico. O espirito muda então de plano de existência, do físico para o etéreo e a alma individual o acompanha justamente porque ela é a presença de Deus, da Consciência Universal que dá vida ao espirito.
NEÓFITO: Pelo que entendi, a alma individual é o que possibilita a manifestação de Deus no ser humano, é isto?
MESTRE: Realmente é isto, é através dela que Deus se manifesta, a Alma Individual propicia ao espirito evoluído, acesso à Alma Universal. A sensação de que desfruta tal espirito, é maravilhosa, pois é como se tudo que há no Universo sempre houvesse estado em seu interior, neste momento ele é o microcosmo que se funde ao macrocosmo, a parte que transmuta-se no Todo.
NEÓFITO: A senhora disse que ao espirito evoluído isto é possível, de que tipo de evolução está falando?
MESTRE: A Alma Individual existe em todos os homens contudo, no homem comum, atua na forma de lampejos de bondade e de solidariedade, como no exemplo que lhe dei. No homem, que por seu próprio esforço, reside uma inteligência esclarecida e uma fé inabalável, a Alma Individual está sempre dirigindo seus atos, como se houvesse uma linha aberta entre o espirito e a Alma do Mundo.
NEÓFITO: E o espirito, o que é?
MESTRE: É uma unidade individualizada, um ser no cosmos. O universo é habitado por milhares de seres aos quais damos o nome de espíritos. O homem, como o conhecemos, é na realidade um espirito que, enquanto vive na Terra, possui uma roupagem altamente evoluída para habitar este lugar, e que chamamos de corpo humano.
NEÓFITO: A senhora quer dizer que eu e a senhora somos espíritos?
MESTRE: Deveria ser óbvio que somos todos espíritos. Compreendo sua confusão, mas reitero que somos todos espíritos com roupagens adequadas para nos manifestarmos no plano de existência em que nos encontramos, se for num plano físico temos obrigatoriamente que contar com um corpo físico. Há muita confusão por conta de dogmas religiosos mas também porque os próprios espíritos que habitam a Terra passaram à dar muita ênfase ao exterior, ou seja, ao corpo. Terminaram acreditando erroneamente que são a parte visível – o corpo – e que o espirito é um acessório.
NEÓFITO: Houve então inversão de valores?
MESTRE: Exatamente, hoje a maioria das pessoas acredita que o espirito é algo independente delas, acreditam que são, de fato, o que vêem: somente um corpo. Se considerarmos a possibilidade de reencarnação, muitos destes espíritos tornam à nascer acreditando nisto, porque esta era a idéia que fizeram quando estiveram antes no plano físico. Muitas pessoas chegam mesmo à se referir ao espirito como “meu espirito”, da mesma forma que dizem meu pé e minha mão. Quando na realidade é o espirito quem poderia se referir ao corpo como “meu corpo”. O espirito é eterno, o corpo humano, como todos nós sabemos, tem uma vida limitada devido às suas características e funções.
NEÓFITO: É estranho pensar sob a ótica de um espirito.
MESTRE: Você mesmo pode comprovar sem muito trabalho que, quem fala com você agora é um espirito e que, quem me ouve também é um espirito e portanto é o espirito quem pensa e deveria faze-lo sob uma ótica eterna, com horizontes largos e não levando em conta somente a vida no plano físico. Todo o desespero que reside no âmago dos homens é causado por esta triste inversão de valores. Quem sou eu, de onde eu venho e para onde vou, não são perguntas para as quais, espíritos que se acreditam corpos, possuam alguma resposta.
NEÓFITO: E o que poderia ser feito para desfazer esta inversão?
MESTRE: Muitas são as atitudes que seriam positivas e importantes nesta tarefa, mas basicamente, no plano pessoal o ser só poderá desfazer este erro se verdadeiramente despertar para a realidade. As religiões como o próprio nome diz, poderiam e deveriam ajuda-lo, provendo-o de ferramentas que possibilitem o seu religamento ao que é Divino. No plano coletivo, desde que um ser “nasce” neste plano físico deveria ser ensinado que é um espirito, que tem possibilidades infinitas de evolução, que dada a sua natureza, interage em vários planos de existência e que para manifestar-se no plano físico tem um corpo que comandará à sua vontade. Ao término de algumas gerações estaria estabelecida uma nova ordem e muito do que se conhece como problema seria extintos naturalmente.
NEÓFITO: Então, quem comanda o cérebro é o espírito?
MESTRE: Comandar não é exatamente o termo apropriado; o cérebro é o que permite ao espirito atuar no plano físico através do corpo.
NEÓFITO: Então, sem o cérebro não há condições de o espirito atuar através do corpo?
MESTRE: Sem o cérebro, há o desprendimento do espirito, a morte física, porque o espirito não pode mais anima-lo, transmitir-lhe vida. Quando há danos no cérebro, e a ciência não conseguiu progredir muito neste aspecto justamente por este motivo, há a morte física.
NEÓFITO: Sim, mas sempre pensei que fosse porque com um dano físico o cérebro não tinha controle sobre certas funções essenciais.
MESTRE: É exatamente isto mas quem não tem controle é o espirito e não o cérebro. Você já deve ter ouvido falar sobre pessoas que infelizmente vem à sofrer o que os médico chamam de morte cerebral. Muitas vezes são pessoas, até então, saudáveis, e algumas vezes, quase todas as suas funções orgânicas funcionam; somente o que chamam de cérebro não funciona ou o faz de maneira intermitente e incompleta. O corpo teria plenas possibilidades de viver mais cinqüenta anos, mas diz-se que o insondável cérebro se nega à continuar. Na realidade é o espirito que, devido à qualquer abalo no cérebro, não consegue mais coordenar sua manifestação no plano físico. Do cérebro, neste caso, só aquela pequena parcela autômata, continua cuidando do funcionamento de parte do organismo, mas nem isto é capaz de manter a vida do indivíduo porque é todo o conjunto cerebral que possibilita a manifestação do espirito e portanto, a vontade, o saber, o desejo, a raiva, a alegria, a inteligência e tudo quanto somos ou conhecemos nas nossas muitas percepções. Quando isto acontece, o espirito se vê dissociado do corpo sem mais nada poder fazer.
NEÓFITO: Sei de alguns casos mas esta abordagem nunca me passou pela cabeça.
MESTRE: Infelizmente as pessoas não observam que quem anima o corpo, quem lhe dá a vontade e o movimento, é o espirito. Sem ele, o corpo é como uma roupa no armário ou esquecida sob a cama, pode ter todas as possibilidades mas não vive na acepção completa da palavra. O espirito é quem recebe e processa os estímulos exteriores e manifesta a sua vontade. É ele quem fala, quem pensa, quem ouve e quem sente, de outro modo o corpo teria vida autônoma, independente do espirito ou de algo que o animasse.
NEÓFITO: Realmente é interessante saber que sou um espirito atuando através do cérebro no meu corpo. É por isto que a senhora disse que o espirito é uma unidade individualizada?
MESTRE: Não só por isto mas também porque, a grande maioria das pessoas, acredita que o espirito é uma luz, um vulto, uma coisa sem forma, sem sentimento, sem experiência ou sem vida, quando na realidade é exatamente o contrário. O espirito tem uma identidade, tem conhecimentos específicos, tem uma energia que o identifica. A Tábua de Esmeralda de Hermes é a obra prima do Ocultismo e nos diz, entre outras coisas, não menos importantes, que “aquilo que está em cima é como aquilo que está embaixo e aquilo que está embaixo é como aquilo que está em cima para a realização de um só milagre”. A individualidade existe aqui como em qualquer lugar, tanto acima quanto abaixo.
NEÓFITO: Esta teoria muda todos os conceitos comuns!
MESTRE: Muda todos os conceitos dogmáticos, com certeza. Se as pessoas tivessem esta certeza saberiam que, em sendo espíritos, que tem tendências e desejos, jamais poderia existir uma possibilidade sequer de o famoso conflito entre carne e espirito existir. Na realidade não há conflito e nunca houve. O espirito é o responsável por todas as vontades e por toda a realização mesmo quando atuando no plano físico. Assim, também o ditado que diz que “a carne é fraca” carece totalmente de fundamento. O ser não faz absolutamente nada por força da carne assim como a roupa não tem e nunca poderá ter vontade própria. Se as pessoas pudessem compreender isto, seus horizontes e suas verdades seriam eternas e plenas e suas vidas passariam à fazer sentido e tudo quanto um espirito pode questionar seria respondido.
NEÓFITO: A senhora falou que um espirito tem “tendências”?
MESTRE: A personalidade, como a conhecemos, como sendo as características intrínsecas de uma pessoa, não são do corpo e sim do espírito.
NEÓFITO: Como um espirito pode ter uma personalidade?
MESTRE: Não somente pode, como de fato a tem. Todo espirito possui características próprias e especificas, resultado de todas as suas experiências em todos os planos de existência, planos estes que podem tanto ser físicos ou etéreos.
NEÓFITO: Mas a personalidade de uma pessoa não é devido à educação?
MESTRE: De fato isto é um complemento da personalidade. As impressões que tem do mundo quando encarna, a educação que recebe e as interferências do meio, agem sobre esta personalidade que já o acompanha, e pode vir à modifica-la, abrilhanta-la ou perturba-la, mas a base dela já estava em formação há muito tempo.
NEÓFITO: E quanto aos planos de existência, como podem ser físicos ou etéreos?
MESTRE: O que determina que um plano de existência seja físico é a natureza e a densidade da energia que o circunda e o forma. Um plano como a Terra é composto de energias extremamente densas, mas nada impede que existam planos menos densos ocupando inclusive o mesmo espaço. O plano físico é perceptível ao corpo físico assim como o plano etéreo é perceptível aos espíritos pelas faculdades que lhes são naturais dada a sua constituição e natureza peculiar.
NEÓFITO: Sendo o corpo físico somente uma roupagem, acredito que não deva ser cultuada.
MESTRE: O problema é saber o que é cultuar para você, porque infelizmente existem excessos de todos os lados. Apesar de usarmos a analogia da roupagem, o corpo é muito superior à uma roupa qualquer, ele é um complexo orgânico altamente adaptável ao meio onde vivemos. Se não se deseja observar outras coisas para se adquirir a certeza de que há uma Inteligência Superior na Grande Arquitetura Universal, que se compreenda pelo menos o corpo humano e será impossível admitir que tamanha perfeição existe por qualquer outro motivo.
O corpo não é simplesmente uma maquina porque uma maquina, por mais evoluída que seja, não pode criar outra, nem regenerar à si mesma. Por outro lado, sendo o corpo, o veiculo de manifestação do espirito no plano físico, suas condições orgânicas facilitam ou são obstáculo, muita vez intransponível, para a realização daquilo que se pretende. Portanto não é uma questão de culto ao corpo, mas ele deve ser mantido no maior estado de perfeição possível para que o espirito possa se manifestar livremente.
NEÓFITO: E quando morremos e perdemos a roupagem?
MESTRE: Continuamos espíritos.
NEÓFITO: Mas se o corpo é a roupagem ideal para habitarmos a Terra, entendo então que devemos ganhar outra roupa adequada ao local para onde formos.
MESTRE: Claro que sim, contudo quando desprendermo-nos do corpo permanecemos ainda algum tempo com uma roupagem intermediária, que acabou por receber o nome de perispirito. É uma roupagem formada pelo remanescente da energia densa do corpo e por isto nos dá ainda a silhueta do que era o nosso corpo físico. Após um processo mais ou menos lento, esta roupagem intermediária vai, como que, dissolvendo-se.
NEÓFITO: Em média, quanto tempo demora este processo mais ou menos lento?
MESTRE: Depende de vários fatores, mas principalmente da capacidade do espirito de se desprender das coisas do plano físico de manifestação.
NEÓFITO: Já ouvi dizer que quanto mais bens materiais possuímos, mais sofremos quando partimos. Isto tem algum fundamento?
MESTRE: Claro que não. O fato de ter tido bens não altera em nada este processo que engloba circunstancias extremamente especiais e muitas vezes traumáticas. Mesmo a maioria dos espíritos evoluídos não ficam impassíveis nesta transição, daí se pode imaginar o que sucede aos espíritos que passaram quase toda sua vida, no plano físico, num estado de semi consciência. No melhor caso, é sem dúvida um momento delicado pois libertar-se daquela experiência que encerra-se e que requereu esforços contínuos, é por vezes, demasiado triste.
NEÓFITO: Em meio à tudo, o que é mais doloroso?
MESTRE: É impossível precisarmos isto, pois existem dezenas de situações que poderíamos avaliar, porem, o rompimento dos laços afetivos é o que mais afeta um espirito. Preparar-se para isto é algo que quase ninguém consegue fazer.
NEÓFITO: Aqueles que por algum motivo não conseguem se desprender totalmente, podem permanecer na Terra ou no campo compreendido por ela?
MESTRE: É muito comum que permaneçam no campo vibracional da Terra. Até mesmo porque a quase totalidade das pessoas não tem consciência de serem espíritos atuando sobre o universo físico, por isto, quando se desprendem do corpo, permanecem, como que sonolentos e alguns chegam mesmo à entrar em choque. A “realidade” do seu desprendimento só vai se descortinando gradativamente.
NEÓFITO: E ai, eles despertam?
MESTRE: Nem todos. Existem aqueles que não tem forças e por isto, permanecem intermináveis períodos no campo vibracional da Terra.
NEÓFITO: O que eles fazem durante este tempo?
MESTRE: Permanecem. Às vezes conseguem se aproximar dos seus antigos vínculos familiares, às vezes acabam se juntando à outros espíritos em igual condição. É tamanha a quantidade de espíritos no campo vibracional da Terra que os mundos paralelos tornaram-se necessários. Existem outras complicações mas ficam para outra oportunidade, quando você estiver melhor preparado.
NEÓFITO: Quando se consegue desprender-se do campo vibracional da Terra, para onde vai o espirito?
MESTRE: Ele continua sua vida. O mais importante que se deve compreender quanto à isto, é que, se o espirito está desperto ele vai para o lugar aonde ele, por seu próprio esforço, merece estar.
NEÓFITO: E que lugares seriam estes?
MESTRE: Não é prudente defini-los nem precisaremos faze-lo porque nos basta saber que os espíritos seguem a corrente que possui afinidades com suas características individuais.
NEÓFITO: O que são os mundos paralelos?
MESTRE: Como disse, se tornaram necessários devido a grande quantidade de espíritos no campo vibracional da Terra e explica-los numa linguagem simples, de maneira que você compreenda é muito difícil. Seria necessário que você tivesse conhecimentos avançados dos mundos sutis, por isto, não poderei me alongar neste tema, bastando agora que você saiba que, o que chamamos de Mundos Paralelos, são estruturas sutis espirituais, que se formaram em torno da Terra para assistir aos espíritos que não conseguem se desprender do campo vibracional da Terra.
NEÓFITO: E estes mundos paralelos são o mesmo que dimensões paralelas?
MESTRE: As dimensões paralelas, ao contrário, não são formadas por energias sutis, são planos de atuação física, em diferentes instantes de Tempo enquanto os mundos paralelos, são circunscrições imateriais que ocupam o mesmo espaço e no mesmo instante de tempo do plano físico.
NEÓFITO: Uma das dimensões poderia ser uma Terra no futuro?
MESTRE: Nada mais do que o reflexo do estado atual, com suas tendências potencializadas e projetadas à frente. Einstein, bem como Newton, trabalharam incansavelmente na teoria do tempo continuo e ainda hoje, muitos outros luminares participam das discussões neste sentido, tanto cientificas quanto para-religiosas, mas não poderíamos enveredar por este assunto agora dada sua complexidade.
NEÓFITO: Nem me aventuro à fazer perguntas sobre isto, mas gostaria de saber como mundos paralelos podem ocupar o mesmo espaço e no mesmo instante de tempo do plano físico?
MESTRE: Ambos os planos de existência se permeiam, se mesclam e interagem.
NEÓFITO: Nestes mundos paralelos, estariam somente aqueles que não conseguem se libertar do campo vibracional da Terra?
MESTRE: Não. Creio que seja fácil concluir que nos mundos paralelos, estão presentes varias classes de espíritos, os assistidos e aqueles que os assistem.
NEÓFITO: Seriam estes os lugares onde existem hospitais para espíritos?
MESTRE: Não costumamos traduzir o plano etéreo em termos materiais porque quem tentou fazer isto incorreu em graves distorções, dando à entender que o universo espiritual seja aquilo que descreveu quando na realidade o avistou muito rapidamente por uma janela e somente poderia descrever o que via e não concluir disto outras coisas completamente irreais. Os mundos paralelos, como eu já disse, foram necessários devido à limitação dos espíritos, não são circunscrições eternas e assistencialistas mesmo porque o Universo não se resume à Terra e aos espíritos que a habitam.
NEÓFITO: A senhora acredita que alguns espíritos possam vir nos instruir aqui na Terra?
MESTRE: Tenho certeza disto. Diversas classes de espíritos vem à Terra com este propósito.
NEÓFITO: E que classe seriam estas?
MESTRE: É mais uma coisa que permanecerá oculta para você, no momento basta-lhe saber que existem espíritos de todos os matizes e que espíritos iluminados vem de outros planos de existência para nos instruir por um motivo muito diferente e não para se purificar de suas faltas.
NEÓFITO: De que planos de existência e qual seria este motivo?
MESTRE: Basta dizer que nem sempre eles provem de mundos sutis e o objetivo deles é simplesmente melhorar o nosso nível de consciência.
NEÓFITO: Então vou fechar o foco da minha pergunta. Os espíritos que partem daqui da Terra, podem voltar para nos instruir?
MESTRE: Se eles forem espíritos despertos e evoluídos o suficiente, sem dúvida que podem voltar com este propósito, contudo há que se respeitar um determinado tempo entre a transição e a eventual manifestação. Os espíritos são viajantes do Tempo e do Espaço e disto se pode concluir muitas coisas importantes sabendo que existem espíritos com roupagens diversas.
NEÓFITO: E como acontecem as manifestações destes espíritos?
MESTRE: Existem vários métodos que um espirito adota para entrar em contato com os espíritos encarnados e as pessoas que possuem dons desenvolvidos os auxiliam muito nesta tarefa.
NEÓFITO: A senhora acredita que existam espíritos criados recentemente?
MESTRE: Qualquer resposta seria vazia de sentido assim como a pergunta. A parte não pode conhecer o Todo e muito menos suspeitar o que o move, por isto, questões desta natureza são energia jogada fora e pura perda do seu precioso tempo.
Toda energia deve ser utilizada em questões práticas para a elevação do padrão mental, emocional e espiritual; tudo quanto for somente curiosidade banal deve ser mantido à distancia do verdadeiro intuito, sob pena de comprometer todos os seus esforços.
NEÓFITO: Certa vez, a mídia deu muita ênfase à um assunto e gostaria de saber sua opinião do ponto de vista espiritual. O que a senhora acha da eutanásia?
MESTRE: Existem vários motivos que levam as pessoas a pensar sobre isto, normalmente quando a doença que aflige o corpo de alguém é incurável e provoca dores e sofrimentos extremos. Do ponto de vista espiritual, exauridas todas as possibilidades de recuperação, o espirito em questão passa a estabelecer graves Traumas Psíquicos Congelados que permanecerão com ele por longo tempo, mesmo depois da morte física, por isto mesmo, acredito que as pessoas envolvidas devem avaliar seriamente a possibilidade de uma atitude à altura da situação.
NEÓFITO: A senhora acha que o espirito pode ser lesado devido às dores e sofrimentos de uma doença destas?
MESTRE: Qualquer sofrimento sério e prolongado que ocorra quando o espirito está encarnado, afeta-o gravemente.
NEÓFITO: E no caso de executarem a eutanásia, o espirito sofre também?
MESTRE: Como eu disse, se a doença do corpo é muito grave e duradoura, acaba afetando o espírito e este, muitas vezes, sentindo os primeiros sintomas disto, decide pela sua morte física. Eutanásia subentende realizar um pedido feito pelo paciente e acredito que, se estão findas as possibilidades de livra-lo daquele estado, deveria ser atendido. Claro que é uma questão que deve ser analisada caso à caso mas, libertar o espírito pode ser uma solução bastante responsável e neste caso não haverá maior sofrimento do espírito que já não fosse ocorrer com sua partida natural.
NEÓFITO: O problema é que muitas vezes entra em questão a ética e a religiosidade das pessoas.
MESTRE: Claro que isto é importante e todas as decisões deveriam ser baseadas nelas, contudo é necessário que se avalie aonde estes pilares estão alicerçados porque se estão baseados em dogmas, tem uma grande chance de estarem equivocados.
NEÓFITO: Sei que já estamos muito adiante na nossa conversa, mas gostaria de retomar um ponto que pode me auxiliar à compreender o contexto geral. Quando temos a necessidade de dormir, somos movidos por um impulso espiritual ou por uma necessidade do corpo, ou seja, por um impulso material?
MESTRE: O organismo humano precisa de algumas horas de descanso por dia para restabelecer suas energias. Quando dorme, parte do cérebro é desativada e uma pequena parcela dele continua administrando o funcionamento dos órgãos que somente diminuem a intensidade da sua marcha, por isto o sistema nervoso relaxa e percepções como a visão e a audição são desligadas. O espirito, por inatividade pode entrar num estado de letargia mas também pode atuar no plano invisível ou etéreo, até que o corpo restabeleça suas energias.



Segunda Parte - Sobre as Religiões, a Bíblia, os Dogmas e sobre Jesus Cristo

O mundo é mágico.
As pessoas não morrem,
ficam encantadas.
(Guimarães Rosa)



NEÓFITO: Sinto-me bastante incomodado quando vejo pessoas que são próximas à mim, defendendo determinados dogmas que julgo incoerentes.
MESTRE: Quando não se professa aquela fé, nem se concorda com determinado dogma, e se respeite às boas maneiras, é comum que surja um desconforto, mas é preciso que se saiba que não serão palavras que poderão demover uma pessoa de uma idéia que tenha como certa, serão os atos e a maturidade interior que, muitas vezes, só vem com o tempo.
NEÓFITO: Mas é difícil conhecer uma realidade e não conseguir convencer as pessoas disto.
MESTRE: Nem deve tentar enquanto não se julgar suficientemente preparado. Qualquer que seja o dogma, é enfim desvendado, ainda que seja após a morte física porque todos, sem exceção, descobrem no momento seguinte, que continuam à viver. É uma sensação muito ruim a que se sente nesta hora, porque imediatamente, muito do que se pensava entra em colapso. Infelizmente não se pode fazer quase nada por estas pessoas, a própria vida as ensinará.
NEÓFITO: Estranho é compreender que não se possa fazer nada, mesmo que seja por alguém muito querido e próximo.
MESTRE: Sei que é difícil no princípio, porque quando se pensa em ajudar, é compreensível que a própria família venha em primeiro lugar, por conhecermos seus problemas, mas é extremamente mais fácil entrar no mundo mental de um desconhecido e ajuda-lo, do que de pessoas próximas. Ainda que a consciência, a intuição e a razão digam não, ainda assim elas tem grande chance de permanecerem crendo no que crêem porque quem vos fala é alguém que eles “viram” nascer.
Por outro lado, o respeito é a base de tudo e não seremos nós que iremos incomodar as pessoas que estão tranqüilas com a sua fé. Cada religião tem seus dogmas, sua liturgia e seu ritual e isto deve ser respeitado.
Um dos princípios que temos é que devemos respeitar a individualidade. O espirito pode por vezes se acomodar mas, se principia à despertar não poderá mais fingir que está dormindo e todas as limitações serão superadas gradativamente.
NEÓFITO: Imaginei que a missão de ensinar fosse mais abrangente.
MESTRE: Estou certa de que no correr da sua preparação, você admitirá interiormente que o respeito a opinião dos outros é muito importante. Só transmito meus conhecimentos à quem deseja verdadeiramente saber e mesmo assim, a pessoa deve demonstrar que está preparada para isto. Não me disponho à discutir gratuitamente a religiosidade de quem quer que seja.
NEÓFITO: Aproveitando o ensejo, gostaria de saber qual a importância das religiões?
MESTRE: Entendo que são muito importantes pois em conjunto com outras organizações impedem que o ímpeto instintivo das pessoas se desenvolva com maior liberdade, sem que tenha referencias, gerando talvez mais desequilíbrio. Por outro lado, quase que sem nenhuma exceção, elas buscam aproximar o indivíduo da Divindade.
NEÓFITO: Então concorda com o que elas pregam?
MESTRE: Não disse isto, falei que independente do que pregam, são importantes. Acho contudo que o único erro, da maioria das doutrinas, seja o fato de não estarem abertas à correções, frente aos desenvolvimentos da humanidade e às próprias revelações intuitivas ou da espiritualidade, como também o fato de se fecharem as verdades que afloram em outras religiões. Talvez a maioria delas fosse mais coerente e com menos áreas de sombras se incorporasse o conhecimento que é possível aos homens de boa vontade, porque o que se exige não é a perfeição mas a maior proximidade possível com o que seja real e isto implica em sermos dinâmicos. A compreensão que se amplia paulatinamente, consegue alcançar sentidos mais belos à cada vez que se defronta com uma mesma situação.
NEÓFITO: As religiões são importantes mesmo tendo dogmas?
MESTRE: As religiões, sejam elas quais forem, são muito importantes, mesmo com seus dogmas. Acredito que o mundo seria melhor se todas as pessoas fossem religiosas de fato e não somente um católico, um protestante, um budista, um ocultista ou um espirita não praticante. Todas as religiões deixam transparecer a Verdade Universal apesar da sua liturgia ou eventuais dogmas. Tanto é verdade que pode-se reunir sacerdotes dos mais variados matizes e das mais distintas religiões numa mesma sala e ao término de longas horas, poderemos comprovar que eles encontraram pontos comuns à fé de todos. Todos sairão mais sábios.
O magnifico diálogo escrito por Will Durant no seu Mansões da Filosofia é exuberante neste sentido. Já não se poderia tentar a mesma coisa com a maioria dos fiéis daquelas religiões, pois a intolerância e a ignorância são os maiores entraves à sabedoria.
NEÓFITO: Não consigo enxergar convergências em matéria de religião.
MESTRE: Foi o que disse, se você fosse um sacerdote, um mestre, um guru ou um estudioso de qualquer daquelas religiões, certamente concluiria que as linhas mestras são as mesmas e que há muito mais encontros do que desencontros na fé. Ninguém pode negar que Deus é um só, presente em todos os lugares e em todas as pessoas e isto já é um bom começo.
NEÓFITO: E os dogmas?
MESTRE: Vou lhe responder contando uma estória lúdica, e você tira suas próprias conclusões.
Imagine uma colônia de pequenos seres que viviam num tubo de ensaio num laboratório. Eles tinham uma vida comum, como todas as comunidades a tem, e o que eles conheciam era aquela vida. Um certo dia, no meio de um dos processos cientifico que os pequenos seres não podiam suspeitar, um deles foi arremessado para cima e por uma fração de segundos conseguiu vislumbrar abismado o que ocorria em torno do seu mundo. Quando caiu de volta ao seu tubo, ele contou suas visões exuberantes e irreais. Disto nasceram teorias que falam da evolução dos seres e de outros mundos. Passaram a explicar tudo que acontece, segundo aquelas fantásticas visões, não sem antes traduzi-las e adequa-las ao raciocínio, aos interesses e à cultura dominante naquele momento. Chegam mesmo à suspeitar as intenções de um ser enorme que dormita perto dos mundos, digo, dos tubos.
NEÓFITO: Posso entender então que os dogmas são formados desta maneira?
MESTRE: Não vou comentar a história, gostaria que você pensasse à respeito, mas é claro que é uma estória fantasiosa que só serve para nos lembrar de perguntar à nós mesmos, se o que temos como verdade é fruto de um salto de alguém, posteriormente adaptado, ou se realmente compreendemos o que tomamos como verdade, se realmente nossa consciência e nossa razão podem ser satisfeitas pela verdade dominante.
NEÓFITO: O que a senhora pensa sobre o Apocalipse Bíblico?
MESTRE: Existem duas abordagens básicas para este tema. Primeiro que, como parte das técnicas de arregimentação de fiéis, o apocalipse se tornou um dogma valioso em determinada época pois prometia um prêmio aos fieis e um castigo aos infiéis, alem de reforçar a idéia de um Deus pessoal, passível de ser aplacado com devoção integral.
Em segundo lugar, vem o reflexo desta crença que infelizmente os olhos não podem ver mas que uma mente esclarecida pode compreender. Com o temor tão profusamente implantado onde quer que as religiões dominantes pusesse seus pés, criou-se o que na Ciência Sagrada se chama de Cadeia Mágica. Esta cadeia, uma corrente de pensamento poderosa, emanada de quase todos os cantos da Terra, foi composta durante mais de quinze séculos, por sentimentos de medo, insegurança, frustração e esperança. Com isto, o inconsciente coletivo passou à ter uma das mais poderosas energias destruidoras da idade moderna. Esta cadeia magica, à qual o dogma deu uma forma e as pessoas emprestaram-lhe o fluido vital, encerra em si o efeito esperado, pretendido ou temido.
NEÓFITO: E o que resulta desta força, fica pairando para sempre?
MESTRE: Na realidade ela fica interagindo nas correntes de pensamento, difundindo aquilo que contem, que em resumo é o desespero e a sensação de impotência. Não é a primeira vez que a Terra sofre com este tipo de energia, que submete e oprime a humanidade. Todo dia novas cadeias ganham força, em detrimento de outras.
NEÓFITO: E o Carma, é um dogma ou uma realidade?
MESTRE: O Carma é mais um dogma que dá vida a uma série de desdobramentos que não existem. Há no Universo uma Lei impessoal, que apesar de atuar em todos os planos, em nada se parece ao que comumente se conhece por Carma.
NEÓFITO: Não existe nenhuma possibilidade de haver algo neste dogma de verdadeiro, no sentido de reparar os erros cometidos?
MESTRE: Não, não existe. Posso dar-lhes um exemplo onde você poderá concluir por si mesmo, desde que você saiba que é uma analogia e por isto, não deve ser literal a sua compreensão. Imagine um ser que, ao termino do ano letivo, não conseguiu aprender o que todo o resto da sua turma aprendeu. Pergunto: O certo seria adotar a teoria fatalista e não aceitar mais a sua matricula no respectivo curso, o certo seria, de acordo com o que se conhece por Carma, aceitar sua matricula de novo, mas não lhe fornecer nenhum material, sob o pretexto de que deve aprender a lição ou o certo seria usar métodos que possibilitassem o despertar dos seus potenciais e lhes dessem as condições necessárias para que não repetisse o resultado anterior?
NEÓFITO: Claro que a terceira opção é a única certa.
MESTRE: É desta forma que se pode perceber como a razão e a consciência atuam. Tudo que não vier de encontro à elas, não terá nenhuma possibilidade de ser real e por isto, é claro, a ultima hipótese é a única aplicável. Nestes termos tudo na vida é simples de compreender, quando nos propomos à isto e quando a liberdade fica à serviço da razão e não o contrario.
NEÓFITO: O problema é conciliar uma conclusão destas com tudo quanto há sobre o carma.
MESTRE: Para que realmente se compreenda, é mais importante analisar a questão do que receber uma resposta conclusiva, por isto, veja o que dizem: “Por isto Deus os colocou em uma Terra ingrata, para nela expiarem suas faltas por meio de penoso trabalho e pelas tribulações da vida, até que venham à merecer um mundo mais feliz.”, ou então “A Terra tem por caráter geral servir de ponto de exílio aos espíritos rebeldes às Lei de Deus. Esses seres tem de lutar à um tempo contra a perversidade dos homens e a inclemência da natureza, duplo e penoso trabalho que desenvolve simultaneamente as qualidades do coração e da inteligência. Assim é que Deus em sua bondade, faz reverter o castigo em proveito do progresso do próprio espírito.”[i]
Você concorda com a idéias que se desprendem destes textos? A Terra é ingrata? Você acredita que através de um árduo e penoso trabalho e pelas tribulações da vida, um espirito é capaz de expiar suas faltas ? Será que a Terra é um “ponto de exílio” para espíritos rebeldes às Leis de Deus? Somos “rebeldes”? Quais são as leis? Na Terra temos que lutar contra a perversidade dos homens e a inclemência da natureza? Como a perversidade e inclemência podem desenvolver simultaneamente as qualidades do coração e da inteligência dos homens? Que bondade pode haver num ser que nos exila num mundo onde, segundo se diz, só encontraremos sofrimento? Isto é reverter o castigo em proveito do progresso?
NEÓFITO: Acho improvável concordar com estas idéias mesmo porque, segundo estou entendendo, bom e mal, ingratidão e perversidade são todos atributos humanos e jamais fariam parte de uma Lei Divina.
MESTRE: Não há nenhuma possibilidade de a Terra ser isto que pregam e muito menos o que compreendem sobre o ser humano. Quem pensar assim, não pode ser diferente daquele triângulo que citei, pois transporta para Deus suas próprias idéias sobre como melhorar alguém que comete um erro. Bastaria à eles que imaginassem as cadeias que temos para prender os criminosos e descobririam que o Universo jamais agiria assim.
NEÓFITO: Era exatamente o que eu estava pensando. Infelizmente não se pensa assim, é como se déssemos a lógica humana como modelo para o universo e para Deus e eles tivessem que seguir.
MESTRE: Infelizmente existem muitas pessoas que “não acreditam no perdão dos seus pecados, exceto depois de um castigo justo e adequado para cada má ação ou pensamento, em uma encarnação futura, e uma compensação proporcional às partes prejudicadas. (...) Karma é um reparador seguro da injustiça humana e de todas as demais faltas da natureza, e corrige os erros com estrita justiça”[ii]
NEÓFITO: E os pecados são ou não perdoados?
MESTRE: Para você, o que vem à ser um pecado?
NEÓFITO: O pecado é uma transgressão à uma lei divina
MESTRE: O problema é, será que esta “lei” estabelecida como “divina” não se encaixa nos dogmas? Poderíamos esmiuçar aquilo que você tem como pecado, mas para pouparmos tempo, deixo para você mesmo analisar.
NEÓFITO: E que base tem este dogma para se sustentar por tanto tempo?
MESTRE: Não que um dogma precise necessariamente ter uma base. O falso alicerce deste dogma, encerra uma premissa que já apresentei há pouco: Este é um mundo de expiação e todos os espíritos viventes sobre a Terra são devedores, dividas estas que foram contraídas em vidas anteriores e que saldarão através de penas e sofrimentos. Uma religião nova de cunho espiritualista diz que: “Existem mundos de expiação e de provas, mundos regeneradores, mundos felizes, mundos celestes ou divinos”, e que “ A Terra pertence à categoria dos mundos de expiação e de provas, razão por que o homem nela está sujeito à tantas misérias.”[iii]
NEÓFITO: Não posso negar que até então não havia questionado este dogma.
MESTRE: Não se deve envergonhar-se dos erros nos quais se foi educado, deve-se antes, exaltar a possibilidade do espirito de libertar-se das amarras e perceber que a Terra não é um mundo de expiações, tem muito mais possibilidades de ser o paraíso, em todos os sentidos.
NEÓFITO: Quais os problemas que este dogma causa diretamente?
MESTRE: Muitos problemas como você já pode supor pelo que eu disse sobre o dogma do Juízo Final. Assim como aquele dogma, este inspira sentimentos ruins, tais como, opressão, limitação, fatalismo e culpa e disto nasceu mais uma infeliz emanação, que vai se juntar às cadeias mágicas inferiores nas correntes de pensamento. Oprime os espíritos que aqui encarnam; sem que tenham conhecimento explicito das razões disto, são aprisionados e tem sua capacidade de mudança e transmutação tolhida.
No plano psicológico, este dogma se tornou uma muleta capaz de justificar qualquer infortúnio e incompreensão, assim, cada empecilho, cada dissabor e cada perca são jogados num cesto chamado Carma. No plano intimo as pessoas tem o Carma como um limitador, algo que os resigna à aceitar situações difíceis, porque em sendo aquelas adversidades, designos divinos, não podem fazer nada.
NEÓFITO: Então, nenhuma situação pode ser explicada por esta via.
MESTRE: Se existem situações difíceis de compreender, deve-se continuar procurando um entendimento com todas as forças e conhecimentos de que se dispõe e não adotar uma saída fácil, pondo a culpa dos insucessos em algo divino.
NEÓFITO: Concordo com tudo que foi dito, mas qual o que mais pode opor-se à este dogma?
MESTRE: Primeiro é preciso sabermos, como eu já disse, que o que nos obriga a desacreditar não só do dogma, como de qualquer outra coisa, é o fato de não satisfazerem plenamente a consciência e a razão.
A teoria que embasa o dogma do carma, tem, como pano de fundo, um Deus pessoal que cria seres espirituais atrasados e disponibiliza várias encarnações, para que eles gradativamente se elevem e tenham o direito de retornar ao mundo divino ou paraíso. Esta teoria mais parece um jogo em que um ser divino se compraz em brincar com seres espirituais criados por ele mesmo.
NEÓFITO: E a Lei de Reciprocidade que existe, como ela atua?
MESTRE: Você concorda certamente que não existe algo pior do que a memória quando se comete um erro. Uma lembrança ruim atormenta, provoca o remorso e não nos abandona um só minuto, mas também não existe riqueza maior do que o conhecimento, do que o saber, muitas vezes inato.
A Lei de Reciprocidade aparece quando observamos, que tudo quanto um espirito vive, em todos os momentos e em qualquer plano de existência, está registrado nele mesmo. Estas características de memória e de conhecimento, o acompanham eternamente e são eles que definem a personalidade de cada ser.
NEÓFITO: Tenho que admitir que não consigo acompanhar o raciocínio. Como a personalidade pode ser determinada assim?
MESTRE: Para que você compreendesse plenamente seria necessário que aprendesse antes várias coisas sobre a formação do ser encarnado, com suas diversas camadas energéticas.
Posso dizer-lhe que o ser humano é composto por sete camadas energéticas, ou seja, envolto por sete camadas interdependentes que processam energias e o põem o ser em contato com todos os demais planos do universo e com as diversas funções do corpo.
Dentre elas, existe a camada mental, ou corpo mental, onde tudo quanto se processa na vida do espirito é armazenado. Tudo que é importante fica armazenado e os traumas, as situações violentas e tudo mais que houver provocar um choque mental, assume a forma de Traumas Psíquicos Congelados.
NEÓFITO: E isto permanece com o espirito?
MESTRE: Este envoltório compõe o espirito e portanto não é descartado com a morte física. Todas as suas vidas, todas as suas impressões, todo o seu conhecimento e experiências anteriores o acompanham. Você deve lembrar que eu disse que o espirito tem uma identidade, tem conhecimentos específicos, tem uma energia que o identifica.
NEÓFITO: Quando ele nasce neste plano físico ele trás tudo?
MESTRE: Como eu disse, algumas destas camadas fazem parte do espirito e o acompanham onde quer que vá. Se volta à encarnar, será como qualquer criança, ensinado e educado segundo determinados valores. Seu aprendizado, a família onde estará inserido e o meio onde vive poderão desencadear processos energéticos que dissolverão ou reforçarão os Traumas Psíquicos Congelados.
Devido à isto, cada pessoa tem uma personalidade que determina a individualidade de cada um e é decorrente de tudo quanto já vivenciou.
NEÓFITO: Minha personalidade, aquilo que sou e que anseio, as minhas tendências, são então características que podem vir comigo antes mesmo de encarnar?
MESTRE: Vários fatores tem a sua parcela na composição da personalidade, mas o maior peso é daquilo que já vem com você. Sua personalidade, as características intrínsecas à você é que lhe dão, por tendência natural algumas virtudes mas também algumas limitações.
Assim, a maior parte do que você é estava impresso no seu invólucro, o resto é oriundo dos fatores pós encarnação que já citei, o que reforça a teoria de que sua individualidade é lapidada durante toda sua existência.
Portanto, um espírito não é punido no sentido literal, nem precisaria, porque tudo o que é depende do que carrega consigo, que poderá ser o veiculo para inúmeras realizações como também poderá ser o seu maior obstáculo.
A idéia de punição, de uma lei que estava sujeita às petições em forma de sacrifícios e orações, é muito anterior à esta civilização. Ainda hoje encontramos, aqui e ali, resquícios da fé num Deus vingativo e rancoroso, que vez por outra, se arrepende do que realiza, pede provas da devoção dos seus fiéis, que está sujeito a ira e compaixão, que chegou mesmo a eleger um povo para ser o “seu povo”. Tudo isto é fruto de contos e é uma pena que as pessoas sejam na sua maioria tão lúdicas para acreditarem que isto pode ser verdade.
NEÓFITO: Realmente é muito diferente do que normalmente se compreende por Carma.
Me ocorreu uma pergunta, porque, já que tudo está gravado nestas camadas, o espirito quando encarnado não consegue lembrar?
MESTRE: Porque um espirito não vive só no plano físico, vive num universo multidimensional e a linguagem do plano físico seria incapaz de traduzir todas as experiências e vivências, assim elas vão aflorando gradativamente com a maturidade e a evolução do espirito, de outra forma seria extremamente traumático e até incompreensível.
NEÓFITO: Com base nisto, é possível acreditar que exista algum interesse escuso ao se perpetuar estes dogmas tão ruins?
MESTRE: Posso adiantar que no começo todos os dogmas se explicam e quase todos os motivos são louváveis do ponto de vista sociológico pois se tornam freios para um povo ou para os fiéis de determinada religião. A força deste freio reside no fato dele ter autoridade “divina”. Com o passar dos tempos os dogmas se tornam tão arraigados na cultura que, quem desejar libertar-se de um deles, somente obterá êxito às custas de muito trabalho e afinco.
Os dogmas são perpetuados pela ignorância dos que acreditam nele. Acabam por provocar sérios problemas, levando as pessoas, inclusive, à fazer coisas, para as quais, não estavam preparadas. Lembro-me de ter conhecido uma senhora que após ter criado muito bem seus filhos, não sem muito esforço, adotou uma criança porque o seu sacerdote[iv] a convenceu. A maioria dos que o procuravam, ouviam dele quase a mesma coisa: tinham um carma e por isto deviam adotar uma, duas, três e às vezes até mais crianças para com isto sanarem suas faltas anteriores.
NEÓFITO: Pelo menos acabavam realizando uma boa ação mesmo que pelo motivo errado.
MESTRE: Não creio que seja assim, sem dúvida era louvável a preocupação do referido sacerdote com a situação das crianças abandonadas em asilos ou instituições, mas a maneira como ele tratava a sua vontade de ajudar foi, no mínimo, desumana. Fez as pessoas acreditarem num carma fictício, colocando muitas delas em situações dificílimas, quando poderia, com a ajuda das mesmas pessoas, ter propiciado condições melhores e até adoções reais, onde a força do amor imperasse sobre os dogmas.
Os dogmas não acrescentam nada à vida de um espirito que não seja o aprisionamento, a negação de oportunidades e um profundo sentimento de culpa. Até a prosperidade material ou a ausência dela é quase sempre justificada por dogmas que acabaram se tornando os algozes do ser humano, mas mudemos de assunto, senão ficaremos dias falando de dogmas.
NEÓFITO: É da Bíblia que tiraram quase todos os dogmas. O que a senhora acha dela?
MESTRE: Um dos mais importantes livros de contos da humanidade moderna.
NEÓFITO: Então nada do que está escrito aconteceu?
MESTRE: Não disse isto mas muitas improbabilidades existem para que o texto, hoje conhecido, seja de fato um retrato fiel do que aconteceu.
Claro que muitas coisas aconteceram contudo a escrita quase não existia ou mesmo não existia naqueles tempos e locais. Muitas estórias e opiniões particulares foram se perpetuando oralmente de pai para filho por centenas, às vezes milhares, de anos até que alguém que conhecia a, então difícil, arte de escrever o fez. Admitindo isto supõe-se por analogia, que as historias foram deturpadas e aumentadas como acontece com tudo que se conta verbalmente, ganhando no decorrer dos anos uma grandiosidade inverídica. Os escritores por sua vez, investidos do poder de perpetuar estas epopéias, certamente procuraram na medida do possível, dar ares grandiosos e eloqüentes às suas obras, o que resultou em estórias onde a verdade ficou mais comprometida ainda. Mas não desanimemos quem sabe estes escritos que, em pele de carneiro ou coisa similar, deveriam somar algumas toneladas, tenham sido muito bem guardados e talvez nenhum deles estivesse na biblioteca de Alexandria, no dia em que grande parte da história antiga foi destruída.
NEÓFITO: Não tenho idéia de quantos anos estamos falando.
MESTRE: Milhares de anos com certeza, mas continuemos falando do arcabouço literário que deu origem ao que hoje se conhece como bíblia.
Com o nascimento de Jesus, inicia-se o que se conhece por Novo Testamento, escrito por ninguém menos do que cinco apóstolos, alem das cartas de Paulo que se juntou ao grupo somente após a morte de Cristo.
As dúvidas neste tocante são muitas. Cristo havia arregimentado seus seguidores no meio de gente simples e não há registro de que aqueles cinco sabiam escrever. Por outro lado, admitindo que soubessem, é improvável que eles fossem tão fiéis ao que havia sido visto ou falado para serem tão poucas as diferenças entre o que um escreveu e o que os outros fizeram, e se escreviam no tempo em que Jesus estava com eles, deveriam ter sido autorizados à fazer isto e ai cabem duas perguntas: Porque não escreveram somente um evangelho? Como não poderia ser demasiado grande o lapso de tempo que separava o fato da descrição do mesmo, pois que se perderiam minúsculos detalhes tão bem descritos na bíblia, qual o tempo que eles tinham disponível para escrever em meio à tantas andanças?
NEÓFITO: Realmente são perguntas muito difíceis de responder assim como as que se pode fazer sobre o velho testamento.
MESTRE: Mas o pior ainda está por vir por isto sigamos adiante. Cristo morre e seus seguidores se espalham tanto quanto podem, fugindo dos seus algozes e tentando ensinar o que haviam aprendido e aqui estaco como também a bíblia, que dá um salto no escuro e nos deixa com mais uma impossibilidade a nos atalhar o caminho, impossibilidade esta que agora nos remete à três perguntas cruciais:
Quem conseguiu reunir todos os escritos e dar cabo da tarefa monumental de catalogar, organizar e rescrever tudo com a estética e a seqüência atual?
Qual era o objetivo desta tarefa, de tamanha envergadura, pois não podemos imaginar tanto trabalho sem um fim especifico e desejado?
Será que quem fez isto não aparou arestas indesejáveis e acrescentou o que convinha à sua fé? Para termos uma idéia do que são arestas indesejáveis, em 367dC o Bispo Atanásio de Alexandria, no Egito, expediu uma ordem para que fossem destruídos todos os documentos com tendências heréticas, completando assim o cerco que se havia iniciado no século anterior, alem de concretizar a decisão dos bispos reunidos no Concílio de Nicéia em 325dC. Os Atos de São João[v] por exemplo, foram duplamente condenados, tanto pelo Papa Leão I que dirigiu a Igreja de 440 a 461dC quanto pelo Segundo Concílio de Nicéia em 787dC que proibiu sua reprodução e determinou sua destruição pelo fogo.
NEÓFITO: São mais perguntas que acredito, ficarão sem resposta.
MESTRE: Se a razão e minha consciência pudessem ajudar-nos nestas tantas impossibilidades, talvez nos convencêssemos de que deveríamos passar por cima de tudo isto e acreditar se tratar de um livro sagrado.
Contudo ressalto mais uma vez que a bíblia é talvez o mais importante livro que a humanidade tem, quem souber lê-la e compreende-la, certamente obterá bons conselhos e grandes verdades porque a verdade permeia tudo quanto existe.
NEÓFITO: O que a senhora pode me falar sobre Jesus Cristo?
MESTRE: Jesus foi um grande Iniciado – sem dúvida um dos maiores da época moderna - instruído nos mistérios da Ciência Sagrada.
NEÓFITO: Jamais pude imaginar isto, mas é estranho que ninguém saiba o que lhe ocorreu até chegar à idade em que reuniu os apóstolos.
MESTRE: Realmente é algo que acabou não participando dos textos bíblicos pelos motivos que você pode supor.
Cristo, quando alcançou a idade em que podia desenvolver seus dons, foi iniciado e só reapareceu em sua terra natal na fase adulta. Isto pode ser comprovado porque não conseguiria ficar no mesmo lugar sem chamar a atenção com sua filosofia e seus dons, no mínimo, extremamente diferentes.
NEÓFITO: O que a senhora acha dos fenômenos que ele produziu?
MESTRE: São fenômenos de transmutação possíveis aos Iniciados.
NEÓFITO: Então os Iniciados podem realizar tais coisas?
MESTRE: Claro que podem e o próprio Jesus falou sobre isto quando disse que se os apóstolos tivesse fé poderiam fazer muito mais. De fato Jesus também podia fazer muito mais, mas optou por manter a discrição apesar de não ter conseguido muito sucesso.
Normalmente ele transmutava a natureza das coisas somente na presença de pessoas mais intimas.
NEÓFITO: Era impossível obter êxito na discrição se existia um traidor no meio deles.
MESTRE: Este é um ponto discutível pelos seguintes motivos: Ele reaparece e reúne os apóstolos. Fica três anos aproximadamente pregando em público e ensinando em separado aos seus apóstolos até que sucede o que, segundo dizem, estava escrito. Se isto é verdade, se estava escrito o que havia de se cumprir, então deveria haver alguém que fizesse o que Judas fez e, se assim foi, Judas poderia ter se negado à trair Cristo? Se ao contrário, não havia nada escrito, como se pode explicar que Jesus tenha escolhido, um à um, os membros do seu circulo interno e tenha cometido este erro primário, que abreviou uma missão tão vultuosa?
NEÓFITO: E o que se pode concluir?
MESTRE: Concluo que também sobre este fato, o que as pessoas conhecem através da bíblia, não é a exata representação da verdade porque é insustentável.
NEÓFITO: A senhora falou que os apóstolos eram do círculo interno?
MESTRE: Falei. Na Ciência Sagrada, historicamente, a sabedoria é passada de duas formas: de forma clara para os membros do Circulo Interno, no caso os apóstolos e numa forma dissimulada e mais simples para o Circulo Externo, que no caso era a população.
Segundo a bíblia, Jesus disse aos seus discípulos que falava à eles de forma clara o que falaria aos outros em forma de parábolas. Por tudo isto, fica claro que, uma vez que Cristo disseminava os ensinamentos e usava os métodos da Ciência Sagrada, ele era um Iniciado que honrou magnificamente sua missão, mas infelizmente as pessoas foram levadas à crer que ele era especial porque era o filho primogênito de Deus e não porque era um espirito que alcançou o ápice da sabedoria e do poder.
NEÓFITO: E quanto à ser primogênito de Deus?
MESTRE: Deus não tem primogênito, ele é uma entidade ilimitada e não um ser que pode ser circunscrito e limitado. Jesus Cristo, como um grande mestre, procurou demonstrar e despertar os potenciais das pessoas que ele podia alcançar e implantar os valores de solidariedade, fraternidade e igualdade, pilares de todos que trilham os caminhos da Sabedoria.
NEÓFITO: Porque será que algumas pessoas tomam Jesus Cristo por Deus?
MESTRE: Acho que você bem poderia perguntar para quem acredita nisto. Da minha parte sei ser um erro que gera confusões e incompreensões nas pessoas.
NEÓFITO: Mudando um pouco de assunto, como a senhora vê a vida aqui na Terra?
MESTRE: Imprescindível, tenho muito prazer em fazer parte de tudo isto.
NEÓFITO: Mas a vida aqui não é somente uma passagem?
MESTRE: Na realidade não partilho deste ponto de vista.
NEÓFITO: Posso ler um texto que trago comigo e que fala sobre isto?
MESTRE: Terei prazer em ouvir
NEÓFITO: “Para aquele que se coloca, pelo pensamento, na vida espiritual, que é infinita, a vida material é apenas uma passagem, curta duração em Terra ingrata. As vicissitudes e tribulações da vida são incidentes aceitos com paciência porque ele sabe que são temporários e devem ser seguidos de horas mais felizes. A morte já não o assusta, porque não é a porta de entrada do aniquilamento, mas a da libertação que facilita ao exilado a ascensão a um lugar de paz e felicidade. Sabendo que está num lugar temporário e não definitivo, torna-se mais indiferente aos cuidados da vida, e daí lhe resultar uma calma de espirito que lhes ameniza as tristezas”.[vi] “A passagem dos Espíritos pela vida corpórea é necessária para que eles possam realizar, com a ajuda do elemento material os desígnios, cuja execução Deus lhes confiou (...) Mas a encarnação é para todos espíritos um estado transitório apenas; é uma tarefa que Deus lhe impõe ao começo da vida como primeira prova do uso que farão do livre-arbítrio”[vii].
NEÓFITO: Qual a opinião da senhora à respeito do teor do que acabo de ler?
MESTRE: Eu já dei a minha opinião antes mesmo que você lesse: Não partilho deste ponto de vista e o acho completamente sem sentido. Já falamos sobre isto quando discutíamos sobre o Carma. Infelizmente não é o único texto, nem a única doutrina que crê nisto, que acredita que a Terra é uma grande rodoviária na extrema periferia do mundo, onde estamos exilados, por sermos seres tão imperfeitos que poderíamos contaminar as demais criações do universo.
É mais um dogma absolutamente pernicioso que pretende fazer crer somente numa vida futura de paz e felicidade. É como rejeitar um presente maravilhoso, por ganância, pretendendo ganhar um ainda mais valioso. Digo categoricamente que o futuro depende do presente assim como o presente é o reflexo do passado. Aquele que não vive o presente não pode em hipótese nenhuma ter um futuro, muito menos um futuro promissor.
Quem acredita-se num lugar temporário e por isto mesmo torna-se indiferente aos cuidados da vida, é no mínimo um louco e disto não resulta senão desespero e angústia, jamais calma de espirito. O espirito somente vibra harmoniosamente quando vive na verdade e não quando inventam pretextos para transformarem homens e mulheres em alienados, que rejeitam tudo, porque o prazer de viver não existe, porque em tudo se vê expiação, profanação, maldade, carma e pecado. Maior profanação e maior maldade fazem consigo mesmo: não se respeitando e, por isto, não vivendo a vida e tudo quanto ela oferece gratuitamente.
A paz está aqui, a felicidade está aqui, o paraíso é aqui e em qualquer lugar onde existia a Verdade e o Amor. Ninguém devia trocar o hoje pelo amanha porque terminará descobrindo que a vida não tem sentido se não for vivida. Se não se vive o hoje, o amanha não existirá, pelo menos não da forma como se imagina.
Estas pessoas deviam olhar bem à sua volta? Observar uma cascata, um riacho, a profusão de árvores e animais da floresta, a beleza do pôr do sol, a insondável tranqüilidade dos mares e tantas outras maravilhas, só assim descobririam que a Terra é um paraíso e a vida deve ser vivida em toda sua extensão.
Pior do que um cego é aquele que, enxergando perfeitamente, não consegue ver o que se descortina à sua frente e alem de não aproveitar as maravilhas da vida, julga-se merecedor de qualquer coisa melhor.
NEÓFITO: E o Livre Arbítrio?
MESTRE: Como Lei Universal não existe. O Livre Arbítrio, como é conhecido, existe somente para as pessoas dogmáticas, pois nada mais é do que um dogma invertido já que o homem pode, de fato, tomar quaisquer decisões à seu respeito e não precisa de uma lei para exercer esta liberdade. A Ciência Sagrada ensina porem que somente uma pessoa sábia exerce de fato a sua liberdade de escolha.
NEÓFITO: Porque a pessoa tem que ser sábia para exercer esta liberdade?
MESTRE: Porque aquele que não tem sabedoria está preso à correntes fatalistas de pensamentos que o conduzem, e sua opinião não é fruto de uma análise ponderada mas sim da sua necessidade e ignorância desmedida. Por isto a verdadeira liberdade de escolha só existe para o homem, na proporção de seu pleno desenvolvimento que o torna uno pela conjunção do ternário: Espirito, Alma e Corpo.
De fato, qualquer pessoa pode fazer o que bem desejar, contudo o que tratamos agora é do direito de escolher o que for mais sábio e não o que for mais conveniente. Todas as pessoas exercem o direito de escolher o que lhe for mais conveniente ou o que lhes supre melhor as necessidades, mas somente as pessoas que possuem a sabedoria que não se curva aos seus anseios pessoais, poderá fazer uma opção sábia e portanto exercer sua liberdade. O mais é arbitrário, é a satisfação de instintos inferiores e de vontades animalescas.
Somente exerce uma verdadeira liberdade quem conhece a verdade, porque somente ela liberta e isto é próprio das pessoas que já dominaram o instinto pela inteligência, as paixões pela razão, o vicio pela virtude e a fatalidade pela liberdade.
NEÓFITO: Já ouvi muitas pessoas falarem que somente a verdade liberta, mas estou certo de que davam outro sentido.
MESTRE: É uma frase muito usada e ao contrario de você, acho que muitos saber o que significa, ainda que não possa aplicar em suas religiões, mas podemos estar seguros de que se descobrirmos a sabedoria, todas as outras coisas se reunirão dentro de nós. Bacon já dizia: “Procura primeiro as boas coisas do espirito que depois o resto será suprido, ou não mais sentiremos a sua falta.”
NEÓFITO: E como se pode chegar à verdade?
MESTRE: De várias formas, mas ela só virá quando você puder raciocinar e pensar com profundidade e nisto a filosofia será de grande ajuda.
NEÓFITO: A filosofia?
MESTRE: Cada ciência atual começou como filosofia, mas esta deixa os louros de suas vitorias aos técnicos famintos por padronizar tudo. A filosofia contudo segue seu caminho, chamando para si a responsabilidade de tratar de assuntos complexos como a parte e o todo, o contido e o incontível, e outros tantos que já receberam a alcunha de hereges em épocas há pouco encerradas.
NEÓFITO: Certamente terei que passar à gostar mais da filosofia que até agora não me atraia muito. Aproveitando que chegamos à falar da ciência, Darwin na sua teoria da evolução diz que somos...
MESTRE: Darwin disse muitas coisas e sua teoria ficou célebre por conta disto e de algumas improbabilidades ditas como certas. Mas não foi somente ele que perpetuou erros grosseiros na época moderna, a visão mecanicista, a aplicação das máximas da física, da matemática e da biologia, em todos os campos, pretendeu resolver à um só tempo todas as dúvidas humanas e nisto fracassou.
Sabemos que isto se deu por falta de conhecimentos mais amplos e pela necessidade de combater os dogmas religiosos que cerceavam a evolução dos estudos científicos. Pena que assim também foram criados novos dogmas, agora científicos. Dizer que o homem é a evolução de macacos é exorbitar um conceito, mesmo que sepultasse de roldão a lenda do homem que recebeu a vida através do sopro de Deus.
NEÓFITO: Mas é um estudo cientifico.
MESTRE: Se o estudo não tem perspectiva, se a ciência não se alia à filosofia, não pode chegar à ser alguma coisa que valha a pena porque se não pode existir religião superior à verdade muito menos pode se conceber ciência superior à verdade. Não pretendo me alongar nas contradições pois que os próprios cientistas modernos podem faze-lo melhor, mas é importante que se diga que com os meios de que dispõem os fantásticos laboratórios de hoje, não se consegue fazer de uma ameba senão uma ameba mais velha e talvez ligeiramente diferente em suas características. E se o homem é, como afirmavam, descendente do macaco porque existem macacos e homens e não somente homens?
Não é porque o corpo humano se assemelha ao corpo de um macaco que descendemos dele, assim como a banqueta de quatro pés não descende da mesa senão na concepção de uma idéia. O que Darwin observou, e que de fato é real, é que as espécies tem algumas possibilidades de se adaptar ao meio em que vivem e que estas possibilidades podem ser comuns à diversas espécies.
NEÓFITO: O estudo das ciências não pode então nos conferir a sabedoria?
MESTRE: Não porque como eu disse, a ciência sem filosofia, os fatos sem a perspectiva e a compreensão dos valores, não nos podem salvar da ruína e do desespero porque apesar das ciências nos outorgarem conhecimentos, somente a filosofia pode nos trazer a sabedoria. O maior mérito da filosofia é o de fazer pensar e somente assim se poderá ter a razão aliada à consciência, o que possibilitará um vislumbre de sabedoria.
NEÓFITO: O que distingue o homem do animal não é que só o homem raciocina?
MESTRE: Certamente você anda desatualizado com as evoluções das pesquisas genéticas e biológicas. Observe um joão-de-barro ou a um formigueiro e tire suas próprias conclusões. O que destingue o homem do animal é o seu espirito, mas não poderei me alongar neste tema.
NEÓFITO: Existe alguma compreensão metafísica ou literal da lenda de Adão e Eva.
MESTRE: Tudo nesta alegoria é lúdico e tem uma interpretação metafísica complexa mas basicamente Adão e Eva representam a dualidade da natureza de qualquer energia, o ativo e o passivo, a ação e a reação, o positivo e o negativo.
NEÓFITO: E quanto ao sentido literal?
MESTRE: Esperava já ter-lhe dado material suficiente para que você pudesse pensar e concluir por si mesmo o que falei sobre a bíblia mas pelo que vejo você levará algum tempo mais nesta tarefa por isto vou usar outros argumentos. É obvio que não se pode buscar uma compreensão literal quanto a isto, mas a própria bíblia dá pistas neste sentido porque a contradição permeia todo um capítulo chamado Gêneses, veja você mesmo:
1.27- E criou Deus o homem, à sua imagem: fê-lo a imagem de Deus, e criou-os macho e fêmea.
2.18- Disse mais o Senhor Deus: “Não é bom que o homem esteja só, façamo-lhe uma ajudante semelhante à ele”
2.24- “Por isto deixará o homem à seu pai e à sua mãe, e se unirá à sua mulher e serão dois numa mesma carne”.
Portanto pode-se perceber que o Vers.1.27 diz ter Deus criado macho e fêmea e o Vers.2.18, que vem posteriormente, contradiz isto. Mas não precisamos parar ai e melhor seria perguntar porque no Vers.2.24 fala-se de pai e mãe quando não poderia haver, se eram só os dois. Por outro, é intrigante saber com quem Deus falava no Vers.2.18?
A conclusão é a mesma já dita antes sobre a impossibilidade de se compreender literalmente os textos da Bíblia e os argumentos para apoiar esta idéia foram dados inclusive pelos que a fizeram, de tal forma, que são explícitos e claros à quem a ler com atenção. E já que nossa conversa veio parar aqui, é bom que se compreenda que nunca existiu o Pecado Original e por isto a raça humana não foi nem poderia ser amaldiçoada por Deus.
NEÓFITO: Sempre que há uma discussão sobre a bíblia, as pessoas logo se apegam à parábola onde Cristo fala da trave no olho, como que para justificar os erros.
MESTRE: Mantenho o que disse sobre a Bíblia, mas se tivesse que comentar, diria que é um argumento utilizado por quem não quer ouvir outras verdades. Admite então que pode até ter um cisco no olho mas que este é muito menor do que aquele que se encontra no olho de quem pretende ensina-lo alguma nova compreensão.
Acho que você poderia pensar sobre tudo quanto falei para que não percamos mais tempo discutindo os dogmas, enquanto isto poderia utilizar seu tempo em assuntos que possam ser de grande valia na sua transmutação.


Terceira Parte - Sobre o Adestramento do Pensamento, Criações Mentais, Concentração e sobre a Respiração.


Quantos mortos trago vivos/
no fundo do coração/
E dentro em mim quantos vivos/
há muito mortos estão.
(Belmiro Braga)



NEÓFITO: Sendo assim, tenho uma dúvida que diz respeito a esta transmutação que será necessária. Acho difícil concentrar-me. Existe uma técnica que facilite a concentração?
MESTRE: Existem várias técnicas mas antes de conhece-las é preciso que você compreenda as correntes de pensamento.
NEÓFITO: E o que são?
MESTRE: Imagine o mundo como um grande oceano magnético e você não estará muito distante da realidade. Existem correntes mentais tão claramente definidas como são as correntes marítimas. A somatória destas correntes de pensamento é conhecida como Inconsciente Coletivo.
NEÓFITO: Lembro-me de que, no inicio da nossa conversa, a senhora disse que abordaríamos depois este assunto.
MESTRE: Agora é o momento propicio porque não se pode falar de concentração nem de pensamento se não compreendermos o Inconsciente Coletivo. Nele existem correntes de pensamento distintamente separadas e é necessário que as conheçamos.
NEÓFITO: Como estas correntes de pensamento são formadas?
MESTRE: Elas são formadas de energia porque pensamento é energia. Visualize um pensamento como sendo um desprendimento de energia. Como toda energia tem uma freqüência particular em que vibra, é fácil concluir que, pensamentos similares tem freqüências similares e acabam se unindo no que chamamos Correntes de Pensamento.
NEÓFITO: E o que acontece com estas energias reunidas nas diversas correntes?
MESTRE: Interagem em todo o campo vibracional da Terra. Os seres humanos tiram destas correntes os pensamentos ou idéias com que vibram simpaticamente.
NEÓFITO: Idéias com que vibra simpaticamente?
MESTRE: Como todo pensamento tem uma freqüência, quando pensamos, nos conectamos às correntes de pensamento que tem a mesma freqüência, e isto é vibrar simpaticamente. Quando pensamos na mesma linha geral, estamos numa corrente de pensamento que é uma das que existem no Inconsciente Coletivo. Neste momento, nós dois estamos ligados à mesma corrente de pensamento, e por isto, podemos receber as mesmas idéias gerais.
NEÓFITO: Qualquer pessoa se conecta à estas correntes de pensamento?
MESTRE: As correntes de pensamentos são empregadas pelos homens de forma inconsciente e consciente. O homem pode se beneficiar do Inconsciente Coletivo, conforme a sua evolução.
NEÓFITO: Várias pessoas podem então contatar a mesma corrente de pensamento e obter as mesmas idéias?
MESTRE: Grupos de homens podem tirar simultaneamente as mesmas idéias das mesmas correntes mentais. Existe porem uma diferença básica que distancia aquele que emprega conscientemente estas correntes, daqueles que desconhecem sua existência. O que as usa conscientemente, conhece a natureza destas energias e ao acessa-las tem um objetivo especifico por isto escolhe previamente as freqüências vibratórias que deseja partilhar ou seja, o tipo de pensamentos que deseja potencializar. Já aquele que desconhece a existência destas correntes, é normalmente arrastado por elas e na Ciência Sagrada diz-se que tem sua vida regida por causas inferiores.
NEÓFITO: Compreendi como se pode usar estas correntes conscientemente, mas quando é inconsciente a sua ação, porque torna a vida pessoa regida por causas inferiores?
MESTRE: Pode-se usar um prisma para decompor a luz branca e assim observa-se que as cores com freqüências mais baixas são as mais perceptíveis ao homem, ainda quando não consegue vê-las, como é o caso do infravermelho. Já as com altíssimas freqüências como é o caso da ultravioleta, sequer percebemos. Como a luz e o pensamento são energias podemos transportar o resultado desta observação e constatar que o homem é extremamente mais sensível às correntes de pensamento com freqüências mais baixas, que o atingem diretamente e por este motivo é alvo certo para as correntes que o bombardeiam com energias que potencializam pensamentos de sofrimento, miséria e fatalidade. Estas são as causas inferiores que dirigem os inconscientes.
NEÓFITO: E qual é a natureza desta energia?
MESTRE: O Inconsciente Coletivo pode ser compreendido como sendo um enorme arquivo de tudo quanto acontece na Terra. Todo o pensamento, toda ação, todo desejo e toda realização já executada por todas as pessoas, fica impregnada nele. Diferenciam-se de um arquivo físico porque permeiam todo o campo vibracional da Terra e estão disponíveis das maneiras que já expliquei. Nele coexistem as correntes de pensamento mais diversas que você possa conceber.
NEÓFITO: A senhora disse que o homem pode se beneficiar conscientemente destas correntes, conforme a sua evolução. Que tipo de evolução ele precisa ter?
MESTRE: Evolução dos seus potenciais intelectuais, emocionais e espirituais porque só poderão tirar vantagens destas energias aqueles que conhecem a dinâmica das correntes de pensamento e despertaram seu poder interior.
Por exemplo, em determinadas atividades, principalmente no segmento de pesquisa de vanguarda de toda ordem, o pesquisador ou estudioso, através do seu esforço de concentração e dedicação, consegue vibrar na mesma freqüência de pensamento à que outras pessoas em várias partes do mundo estão conectadas e com o mesmo intuito. Acontece que instantaneamente passam a perceber nuançes que não haviam percebido antes. Existem muitos casos de pesquisadores solicitarem o registro de patente de várias coisas em partes distintas do mundo, ao mesmo tempo. Pessoas que nunca conversaram com idéias idênticas ou similares.
NEÓFITO: É extraordinário isto. A senhora já presenciou uma experiência destas?
MESTRE: Eu sempre soube disto mas com relação à pesquisa de produtos nunca havia comprovado a eficácia, mesmo porque não atuo neste segmento. Um dos membros da Ordem, que entre outras coisas é inventor, estava encontrando problemas sérios porque havia vendido uma idéia no papel e na hora de por o equipamento para funcionar, não conseguia. Certo dia fiquei ao lado dele olhando o equipamento; ele me explicava como havia pensado e o que ele já havia tentado fazer, mas que tudo havia sido em vão. Tentei ajudar mas meus conhecimentos naquela área nada puderam fazer.
No dia seguinte acordei com a nítida certeza de que havia estado a noite inteira com algumas pessoas que me mostravam aparelhos semelhantes e me explicavam o funcionamento, ao que prestei muita atenção. Falei imediatamente com ele e como eu não conhecia o nome da peça que deveria substituir a que ele havia usado, eu descrevi o que havia visto e imitei o ruído que ela fazia quando funcionava. Ele reconheceu a peça pela minha descrição e, logo depois, o tal aparelho estava funcionando. Anos já se passaram e o equipamento não tem similar no país.
NEÓFITO: Neste caso, porque a senhora e não ele, entrou em contato com a corrente de pensamento das pessoas que trabalhavam naquele projeto em outros lugares?
MESTRE: Porque ele estava tão envolvido com os aborrecimentos que estava tendo que não conseguiu buscar a solução. Como eu fiquei extremamente preocupada em ajuda-lo, meu cérebro conectou-se mais facilmente.
NEÓFITO: Será por isto que algumas pessoas acham que devem esquecer os problemas para que a solução possa vir?
MESTRE: Certamente. Muita coisa foi sendo aprendida empiricamente, por isto algumas pessoas usam este recurso mesmo sem saber das correntes de pensamento, porem, por não saberem, estão sujeitas à interagir com aquelas de baixa freqüência que já citei.
Gostaria que você compreendesse que estamos direcionando o assunto para o homem, mas também o meio em que vive é extremamente afetado porque toda energia cria formas e dependendo da freqüência em que vibra, as formas criadas nem sempre agradáveis. Este é mais um ponto que não se leva em consideração quando se discute a qualidade de vida.
NEÓFITO: De fato eu não estava atentando para isto.
MESTRE: Temos que ser coerentes em nossa compreensão, por isto não podemos ser negligentes, admitindo que qualquer alteração que ocorra num plano de existência não tenha reflexos nos outros planos que o permeiam. O Universo é um Todo, composto por energias que interagem, partilham e criam, assim também é o campo vibracional da Terra.
NEÓFITO: E nós podemos interagir neste aspecto?
MESTRE: Não só podemos como devemos interagir para elevação dos padrões de vibração das correntes de pensamento. O aumento de amplitude da consciência individual só se justifica se for alicerçada num intuito verdadeiro de empenho neste sentido, em todos os planos de atuação, seja físico, intelectual, emocional e espiritual e não somente visando o pessoal mas principalmente o coletivo.
Quando dizemos que para alterar a face do planeta é necessário que primeiro mudemos interiormente à nos mesmos, estamos simplesmente aplicando o conceito da energia como reflexo. Quando fazemos isto passamos a alimentarmo-nos também de energias provenientes de padrões vibracionais superiores porque a energia se movimenta de forma circular e assim possibilitamos uma reversão do quadro energético do campo vibracional da Terra, o que por sua vez se reflete em todos os outros aspectos.
NEÓFITO: Se houvesse uma conscientização deste conceito e a humanidade como um todo conseguisse aumentar a capacidade de absorver as freqüências mais elevadas de pensamento, anulando ou fechando-se às inferiores, que reflexos poderíamos esperar no plano pessoal ou da vida no plano físico?
MESTRE: Quanto mais a humanidade atingisse padrões elevados em freqüência, seus pensamentos mais exortariam e inspirariam posturas, conhecimentos, relacionamentos e comportamentos mais elevados em todos os sentidos. Se poderia esperar tanto no plano pessoal como coletivo uma redução drástica dos problemas que afligem a humanidade porque são todos gerados pelo desequilíbrio em todos os aspectos da vida no plano físico.
NEÓFITO: A senhora acha que algum dia isto poderá acontecer?
MESTRE: Muitos seres nos mais diversos segmentos do campo vibracional da Terra estão envolvidos na preparação da consciência humana para possibilitar uma mudança vultuosa no padrão energético que se fará sentir em tudo e em todos.
NEÓFITO: Quem são estes seres?
MESTRE: Muitos espíritos, alguns que vivem no plano físico, outros que não vivem mais e alguns que nunca viveram neste plano de existência. Como uma grande orquestra, cada um faz a sua parte e nem sempre consegue perceber que faz parte de uma grande cadeia silenciosa, que trabalha incessantemente no seu próprio tempo, alheia às vicissitudes e as necessidades dos padrões inferiores de vibração.
NEÓFITO: É fascinante, mas gostaria de saber quem reuniu todos eles, quem projetou este plano?
MESTRE: A lei máxima do universo é o equilíbrio, ele rege todas as naturezas, por isto, onde houver desequilíbrio haverá sempre empenho e trabalho em todos os planos de existência. Todos os níveis de consciência que vibrem em freqüências superiores trabalharão para restabelecer o equilíbrio pois ele está impresso na Alma Universal.
Quanto aos espíritos encarnados no plano físico, todos podem participar desta cadeia na medida em que pelo menos iniciem a sua própria transmutação que só depende da própria vontade, da consciência espiritual e da capacidade de atuação desta consciência no plano físico.
NEÓFITO: O que pode restringir a capacidade de atuação da consciência espiritual no plano físico?
MESTRE: Basicamente o empecilho maior é o pouco desenvolvimento das potencialidades intelectuais e emocionais.
NEÓFITO: Que ferramentas se poderia usar para atenuar ou remover este obstáculo?
MESTRE: No plano pessoal, e usando palavras comuns, eu diria que a ferramenta que abre as portas para uma nova consciência é um cérebro desenvolvido.
NEÓFITO: E existem exercícios para desenvolver o cérebro?
MESTRE: Existem vários processos para aumentar a circulação e fazer uso consciente dos diferentes segmentos do cérebro, mas infelizmente não poderei me aprofundar neles agora pois requerem muito tempo e muito do seu esforço de compreensão.
O que posso dizer é que determinados processos fazem com que seja possível uma maior sensibilidade na resposta a qualquer classe de pensamento e uma facilidade em se concentrar sobre qualquer assunto e que, no decorrer do tempo, é possível desenvolver um poder intelectual e um brilho mental impar que vulgarmente se denomina como domínio do pensamento.
NEÓFITO: O domínio do pensamento é tão importante?
MESTRE:: De todos os fatores da educação psíquica, o domínio do pensamento é, incontestavelmente, o mais importante.
NEÓFITO: Pelo que a senhora disse até agora, concluo que deve ser complexo, mas quais os requisitos iniciais para quem pretende dominar o pensamento?
MESTRE: Primeiramente é necessário que haja o que chamamos Adestramento do Ser. O corpo humano é um sistema orgânico extremamente complexo e o cérebro é quem gerência as atividades do corpo. Ele não se curva senão pela força da vontade por isto, tem-se que combater a impulsividade e a inércia dos órgãos físicos que ele usará para incomodar.
NEÓFITO: Incomodar?
MESTRE: Sim. Tente deitar no chão para fazer uma meditação de 45 minutos. Neste tempo você tentará acalmar o seu cérebro, buscando uma concentração naquilo que pretende. O acontece logo após os primeiros minutos? O seu cérebro começa a enviar alertas de que está sentindo dor em tal ou tal lugar. Se você conseguir bloquear isto ele se acalma por mais dois ou três minutos e começa a avisa-lo de que aqui ou ali está coçando, que está frio, que está com fome, que tem que ir ao banheiro. A cada impulso que você vence, lá vem ele com outro. Se você atende à qualquer destes impulsos com o mínimo gesto, mudando de posição por exemplo, ele se acalma só um pouco, mas tão logo você fique inerte de novo ele volta à carga. Por fim ele o fará sentir que alguém se aproxima, que um inseto pousou no seu rosto e assim por diante. O cérebro não gosta de inatividade ou de ser obrigado à ficar quieto, por isto é necessário um adestramento conveniente que só se leva avante com muita perseverança.
NEÓFITO: De fato é isto que ocorre sempre...
MESTRE: E observe que não é somente quando você tem que ficar inerte. Quando você quiser obriga-lo à executar uma tarefa que não seja prazerosa para ele, ele tentará mão se sujeitar. Por exemplo, quando se tem que estudar intensamente um assunto, mal se senta à mesa e ele já começa dando-lhe a impressão de cansaço, de sono, de desconforto e assim por diante.
NEÓFITO: Como se dá este adestramento?
MESTRE: Em linhas gerais se dá pela compreensão da natureza do cérebro porque assim se pode bloquear certos impulsos, por treino e pelo inteligente uso de estimulantes naturais.
NEÓFITO: Estimulantes?
MESTRE: Sim. É um tópico extenso mas basicamente existem estimulantes auditivos como a música, olfativos como o aroma de incensos e estimulantes que podemos ingerir tais como o café e o chá. Os estimulantes auxiliam a acalmar o cérebro ou à disponibilizar mais energia para ele e são conhecidos de todos apesar de normalmente não receberem uma atenção especial.
NEÓFITO: Estando adestrado convenientemente, qual o próximo passo?
MESTRE: Tendo realizado este adestramento, você estará em condições de empregar a reforma de seu estado mental com maior êxito e resultados mais rápidos. Para isso é necessário incutir em seu cérebro, hábitos derivados de um ideal superior, e retirar dele tudo o que provem de uma idéia falsa. É esse o verdadeiro fim da atividade mental porque assim você passará à se conectar com as correntes de pensamentos com vibrações superiores ao passo que desprezará as de freqüências baixas.
NEÓFITO: Espero que à partir daí não existam mais obstáculos.
MESTRE: Não encontrando obstáculos em seu organismo físico, nem em sua disposição psíquica, só resta uma coisa: é preciso que procure formar uma perfeita imagem mental daquilo que você pretende e concentrar o pensamento na sua realização, porque sendo o pensamento, uma energia criadora de formas, basta isto para que suas criações mentais, destinadas a agir sobre o plano físico, sejam perfeitas.
NEÓFITO: Não sei se é pertinente a pergunta mas tenho muita dificuldade de me concentrar em alguma coisa quando a minha vida não vai bem. Parece que à toda hora meu pensamento volta aos problemas que enfrento no dia-a-dia.
MESTRE: O melhor seria que em sua vida não houvessem problemas mas espero que, por seu próprio esforço, não demore o dia em que serão poucos e pequenos. Quanto ao seu cérebro retornar à toda hora para seus problemas, creio que já tenha demonstrado que isto se deve às correntes de freqüências inferiores. Por outro lado, para não se submeter à sua vontade, seu cérebro resistirá por algum tempo quando for obrigado à fazer alguma coisa e em alguns casos usa a técnica da preocupação, que literalmente quer dizer, se ocupar de alguma coisa antes do tempo.
NEÓFITO: E eu posso fazer alguma coisa à este respeito à partir de agora?
MESTRE: Existe uma coisa que você pode fazer que o ajudará como um todo e iniciará seu exercício de vontade de se conectar às correntes de pensamentos superiores. Com certeza poderá atenuar não só suas preocupações como diretamente os seus problemas.
Não existem palavras que sintetizem mais o anseio de equilíbrio e o bem estar no plano físico do que a prosperidade, a felicidade e a saúde, assim, se você pensar e falar sobre elas, certamente, suas criações mentais se realizarão neste sentido.
NEÓFITO: A senhora pode me dizer como posso falar sobre elas?
MESTRE: Quando as coisas parecerem más ou quando elas correrem bem, fale na felicidade, na prosperidade e na saúde. Quando os outros estiverem tristes, insista em estar alegre, em falar na felicidade, se estiverem doentes fale na saúde e eles logo se sentirão melhores. Dê alegria aos outros, dê aos homens a fé na prosperidade, falando constantemente nela. Falando e pensando sobre elas, sua saúde será melhor, sua mente será mais brilhante e sua personalidade mais atrativa, por isto, quando as pessoas falarem de doença, nunca os acompanhe gratuitamente porque principalmente nestes momentos você deverá falar sobre ser saudável, sobre ter saúde. E como a doença, você deve eliminar do seu pensamento tudo quanto disser respeito também à pobreza ou à infelicidade.
Quando os outros perderem a coragem, fale das coisas boas que trazem prosperidade e felicidade, pois assim você estará iluminando o caminho para que eles vejam as melhores coisas que estão à sua frente. Amor, harmonia, fartura, beleza, satisfação, realização de sonhos, saúde e coragem são como ícones que acessam as correntes vibracionais superiores.
Apegue-se ao poder que produz abundância, tenha fé ilimitada nele e vencerá toda adversidade, alcançando o mais elevado fim que tiver em mira. O medo do insucesso, da infelicidade e da doença produzem mais insucessos, doenças e infelicidade do que todas as outras causas combinadas, e por isto devem ser parte somente do seu passado.
NEÓFITO: Parece fácil
MESTRE: É mais difícil alimentar-se de energias inferiores, é mais difícil viver na doença, na pobreza e na infelicidade do que alimentar-se de energias de padrões superiores e colher todos os frutos que proporcionam o bem estar. Infelizmente a maior parte das pessoas vive erroneamente porque não fazem seus pensamentos vibrarem na freqüência dos pensamentos puros, felizes e superiores.
Mude sua postura completamente e só não espere resultados permanentes de um momento para o outro, mas esta mudança irá transformar a sua vida.
NEÓFITO: Farei o que a senhora me ensinou mas para que eu possa criar uma imagem mental perfeita eu preciso ter uma concentração muito boa.
MESTRE: Para coagular e expandir o fluido vital é necessário não somente o adestramento do pensamento como a concentração de forças naquilo que se deseja. A concentração é uma das questões que mais ocupa o neófito na Ciência Sagrada.
NEÓFITO: O que a senhora poderia me falar mais sobre a concentração?
MESTRE: A concentração encerra as mais transcendentais conseqüências, de modo que ela é indispensável para todos que vivem da consciência e da inteligência. É somente a concentração que pode dirigir suas forças para o que deseja criar; sem ela, suas criações mentais serão efêmeras e nunca chegarão a realizar-se.
Como você já deve ter compreendido pelo que conversamos antes, para aquele que desconhece a natureza das energias do pensamento, a concentração é coisa dificílima; mas em se conhecendo, torna-se fácil pois que só se tem de lutar com duas ordens de obstáculos. Em primeiro lugar, cumpre-lhe desatender às impressões que lhe afluem de todas as partes, pensamentos e devaneios que o assediam à todo instante, provenientes das correntes de freqüência inferiores. Vivendo num oceano de pensamentos, é conveniente habituar-se a aceitar automaticamente os pensamentos superiores e a rejeitar de igual modo os inferiores. Em segundo lugar, a mente tem que manter nela uma única imagem, o objeto da concentração, portanto, ele não somente tem que resistir e, chegar mesmo a, bloquear os pensamentos externos, mas ainda interromper toda atividade mental interna, não procurando estabelecer relação de semelhança entre a imagem, objeto da concentração, e qualquer outra coisa.
NEÓFITO: Em conseguindo isto, qual a postura mental no momento da concentração plena?
MESTRE: A consciência percebe o silencio da mente individual e compreende que está conectada às correntes superiores de pensamentos.
NEÓFITO: De que ordem podem ser as minhas criações mentais?
MESTRE: A criação mental é a formação de uma imagem perfeita do objeto, virtude ou qualidade que se deseja alcançar. Somente o conhecimento das coisas divinas não podem ser alcançados desta maneira pois você só o receberá pelos métodos da Ciência Sagrada.
NEÓFITO: Devo imaginar-me na posse do objeto, virtude ou qualidade que criei mentalmente?
MESTRE: A imaginação não é uma fantasia; é a faculdade de formar imagens, cujo fim é a formação de um quadro perfeito do que você deseja, por isto você deve imaginar-se usufruindo da sua criação mental.
NEÓFITO: A senhora pode me dar um exemplo?
MESTRE: Por exemplo, precisa de amor? O amor é uma força e por isto tem uma freqüência elevada de vibração. Portanto, ao fazer um quadro mental do amor, você deve representa-lo de acordo com a mais elevada idéia que faz dele. Tudo o que existe, teve sua existência primeiramente no plano mental por isto, a clareza do seu pensamento dará forma ao que você pretende e a intensidade de sua concentração emanará o fluido vital, ambas as coisas são indispensáveis para a realização perfeita das obras mentais.
NEÓFITO: No caso que a senhora citou, como eu poderia criar um quadro mental de algo impalpável como o amor?
MESTRE: Impalpável não é um termo muito correto para se utilizar quando se fala sobre energias porque elas existem à despeito do fato de a maioria das pessoas desconhecerem como manipula-las. O magnetismo da Terra é prova irrefutável das energias naturais do campo vibracional deste plano de existência, ainda que não possa ser tocado.
Quanto ao amor, é possível senti-la e ninguém poderá negar este fato. Mas vamos à sua pergunta, se é o amor Divino que você deseja, imagine-se mergulhado num oceano desta força vibratória, veja seus raios banhar-lhe e interpenetrarem todo as sua partículas, até que seu corpo vibre na mesma freqüência e você sinta a atmosfera que lhe rodeia como que a pulsar.
NEÓFITO: E se não for o amor divino que eu desejo?
MESTRE: Era de se esperar esta pergunta mas fiz de propósito. Se você deseja dirigir a energia do amor a alguém, imagine-se da mesma forma que acabei de falar e sinta que um feixe desta energia se forma no centro do peito, no seu chakra cardíaco, e daí se dirige para o chakra correspondente da pessoa que deve recebê-lo. Assim, esta emanação de amor penetrará no campo energético da pessoa a quem você dirigiu este amor.
NEÓFITO: Isto não seria coagir uma pessoa à sentir amor por mim, sem que deseje isto?
MESTRE: Absolutamente. De fato, você não tem o direito nem mesmo conhecimentos para empregar força coercitiva sobre outra pessoa. No exemplo dado não há coação porque a pessoa que recebe esta emanação, é beneficiada pela energia e pode passar à vibrar simpaticamente com você, porque a energia age em forma circular. É bom que se entenda que isto não se aplica somente no relacionamento amoroso, pode ser usado por qualquer pessoa para disseminar o amor e a simpatia e estará assim participando da tarefa de aumentar o padrão vibracional da consciência das pessoas.
NEÓFITO: Que outros exemplos a senhora poderia me dar, com relação à virtudes ou poderes mentais?
MESTRE: Dou-lhe um exemplo fácil desta vez. Muitas vezes as pessoas tem dificuldades em empreender um trabalho mental exaustivo, como uma prova ou exame e mesmo sabendo a matéria, nestes momentos é normal que criem um bloqueio intransponível. Neste caso deve-se operar para adquirir um grande vigor mental, imaginando que uma corrente azul de força cósmica penetra em seu cérebro e enche todo o seu corpo, como se você estivesse num oceano de luz azul.
Quando sentir que todo o seu ser vibra na mesma freqüência desta luz, estará em condições de empreender qualquer trabalho mental. É claro que não se pode enganar-se achando que tendo recebido somente uma vez esta força cósmica azul, pode-se tornar um gênio, porem, com o continuo exercício deste gênero, seu poder mental irá aumentando gradualmente e certamente conseguirá seu objetivo.
NEÓFITO: E no plano material, podemos usar esta energia?
MESTRE: É só empregar no plano material a mesma faculdade de formar mentalmente o que se deseja. A clareza de sua imagem faz de sua criação uma realidade mental, e quanto mais firmeza você tiver na criação mental, mais depressa virá a realização de seu ideal. A constância e a freqüência de sua vibração mental põem em atividade as energias necessárias para materializar a imagem mental que você formou. Porem, enquanto esperar que suas criações se materializem, deve cumprir fielmente todos os seus deveres, à medida que se apresentem porque, de fato, é somente assim que estará cooperando para a realização do seu objetivo.
NEÓFITO: Estas técnicas fazem parte da preparação do neófito?
MESTRE: Claro que sim, desde o principio de sua instrução porque ninguém poderá dispor dos seus poderes e dons se não instrui adequadamente seu pensamento e sua concentração.
Concentrar é fixar o pensamento num ponto definido, é focalizar toda a nossa inteligência sobre um pensamento, um objeto ou uma ação determinada esta é a base do ensinamento pratico da Ciência Sagrada. Sabido é que todos os nossos atos se tornam mais fáceis, fecundos e perfeitos, se os impregnamos de toda a nossa inteligência e vontade, se pomos neles toda a nossa atenção e interesse. Fixar a consciência numa só imagem, sem distração ou desvios, é obter desse objeto uma ciência mais exata do que nos pode fornecer qualquer outro método.
A concentração assim como a respiração, são matérias básicas para aqueles que desejam alterar seu estado de consciência.
NEÓFITO: Porque a respiração também?
MESTRE: Se há uma função mais essencial do que as outras para a saúde do organismo humano, é a da respiração. Nada há de tão importante para o bem-estar físico e mental como a respiração correta.
Quando consideramos que a maioria das pessoas não emprega mais que um sétimo da capacidade de seus pulmões, é fácil compreender porque tantos sofrem.
NEÓFITO: Em que consiste o erro na respiração?
MESTRE: O erro fundamental em relação à função respiratória baseia-se na ignorância do fato de que os pulmões são a parte mais essencial do aparelho alimentar. Pouca coisa tem com a função de recolher ar ao corpo, que lhe atribuem geralmente porque o ar é suprido às células individuais do corpo, em grande parte, pelos poros.
NEÓFITO: Acho que terei muito que aprender neste aspecto também.
MESTRE: Sem uma perfeita respiração, você não conseguirá arregimentar energias para pretender qualquer coisa no campo das criações mentais e das correntes de freqüências mais elevadas e nisto reside talvez o maior entrave porque respirar de maneira errada é algo que aprendemos quando criança e é muito difícil livrarmo-nos deste hábito. Nenhum homem normal pode ter saúde por muito tempo, se respirar mais do que seis ou sete vezes por minuto quando é comum que se respire duas vezes mais rápido do que isto por não ter aprendido convenientemente.
NEÓFITO: A senhora pode me ensinar uma maneira certa de respirar?
MESTRE: Posso, mas antes vou lhe falar da importância da respiração para o seu cérebro. Acabamos de falar sobre isto e acho que não preciso lembra-lo que tudo o que há no plano físico, existe em todos os planos de existência que o permeiam. Compreendendo isto você saberá que é a entrada e pode se tornar a saída de tudo o que há de bom. Fixando a mente nos diversos centros de seu cérebro, e aplicando, conscientemente, a respiração rítmica você poderá potencializar a sua conexão com as correntes de freqüência mais elevadas e delas poderá obter as coisas que escolher intencionalmente podendo inclusive alterar a natureza do seu ser.
NEÓFITO: A senhora disse que eu deveria fixar a mente nos diversos centros do meu cérebro?
MESTRE: Disse mas isto lhe será ensinado com o tempo, assim como as respirações rítmicas às quais me referi, só citei, para que você saiba da importância da respiração como o segundo componente que se unirá à concentração para a realização de tudo quanto tenho falado até agora.
NEÓFITO: A senhora me ensinará algum tipo de respiração?
MESTRE: Posso lhe ensinar agora um tipo de respiração ao qual chamo de Completa. De pé, expulse o ar pelo nariz, contraindo o abdômen muito lentamente e o mais possível, sem mover outra parte do corpo. Depois, inspire profundamente enchendo o abdome e os pulmões. Leve um tempo igual na inspiração e na expiração. É importante que você repita esta operação várias vezes ao dia em seqüências de oito inalações, certamente você conseguirá sentir um bem estar pleno em seu corpo.
NEÓFITO: Gostaria de fazer uma pergunta, correndo o risco de ser imprudente. Tudo que temos conversado à respeito do adestramento do pensamento e da respiração, pode ajudar a alterar o estado em que vive um homem?
MESTRE: Não existe outro intuito que não seja elevar o estado em que se encontra o homem, compreendendo-o de forma plena como sendo a junção do espirito, da alma e do corpo. O homem goza de um poder que não tem limites, e pode perfeitamente modificar qualquer situação como espero Ter demonstrado.
NEÓFITO: Compreendo o que diz mas será possível sermos mais específicos com relação às alterações que são possíveis no plano físico ?
MESTRE: Com base no que eu já lhe disse, compete ao homem ativar suas faculdades mentais atuando diretamente sobre o mundo material, impondo assim as possibilidades de progresso no sentido de vencer e conseguir realizar o que lhe for lícito. E como você insiste neste ponto, compreenda que a vida é una em todos os seus aspectos, e o triunfo do homem pode e deve ser realizado em todos os sentidos, seja físico, emocional, mental ou espiritual. Se o homem não possui meios para a sua subsistência normal ou não tem saúde, ele não pode sentir-se perfeitamente equilibrado, emotiva e mentalmente. Devemos estabelecer um equilíbrio perfeito entre os quatro veículos para poder gozar do bem estar pleno. Não há mal no homem desejar possuir bens materiais e trabalhar para consegui-lo, desde que não faça disto a razão de ser de sua vida. Tendo para dar, e possuindo o necessário, poderá ser útil aos seus e a todos os demais. Não fazemos apologia da pobreza e bom seria que todos tivessem os bens necessários para uma vida sadia e feliz.
Por meio de exercícios específicos, o poder do pensamento pode vir à ser bem aplicado em benefício de um nobre viver, atraindo boas possibilidades, como conseqüência da boa aplicação do poder e da generosidade da natureza das coisas. Isto não quer dizer que devamos desejar glórias ou lutar exclusivamente por acumular fortuna. O homem deve ser o senhor do que possui, e jamais seu escravo.
É importante frisar que certas condições são determinadas pela personalidade, que define aptidões inatas, que podem ser realçadas pelo afinco, pelo estudo e pela experiência e que podem ser potencializadas pela força de um pensamento bem adestrado, contudo, o meio onde se vive atua sobre o ser e se as condições exteriores não forem adequadas, é pouco provável que se consiga êxito numa operação desta natureza.
NEÓFITO: Fico feliz em saber que a prosperidade é importante porque é sempre um dilema, parece que desejar possuir bens nos afasta das coisas verdadeiras e sagradas.
MESTRE: No plano de realização material, a prosperidade é tão básica como os alicerces de uma casa, porém se torna perigosa se nos fazemos escravos dela. Reitero que a vida tem que ser vivida integralmente, de maneira que a nossa atenção esteja sempre voltada para a realização perfeitamente harmônica em todos os sentidos. É claro que a prosperidade auxilia o equilíbrio, pois um homem com fome não pode ter sentimentos nobres e elevados, já que sua mente estará presa às necessidades físicas.
Se você deseja realmente prosperar, precisa começar mantendo a mente aberta às várias concepções econômicas, sociais e culturais dominantes. Entender os mecanismos que geram riqueza, segundo a época e o local, é extremamente importante porque existem interesses que podem, de um momento para o outro, e por motivos que você não deve desconhecer, transformar algo valioso em nada e elevar à categoria de valioso o que até então não tinha nenhum valor.
Evite tudo quanto não tenha um objetivo construtivo. Sublime os seus sentimentos, transformando o ódio em amor, a antipatia em simpatia, a competição em cooperação. Assim o seu pensamento vibrará na freqüência das correntes elevadas. Procure compreender a filosofia do trabalho, na certeza de que, neste mundo de relatividade, a vida material é quase tão útil e preciosa para a sua evolução quanto a vida espiritual. Assim, e aplicando sempre o discernimento e o bom senso, estabeleça uma unidade atuante dentro de si mesmo, e passe a senti-la entre você e os demais seres e todas as coisas. É tão só pelo progresso natural oriundo de seu esforço e inteligência, que você conquistará a verdadeira prosperidade, que será fonte de alegria e paz para você e para os outros.
NEÓFITO: Vou de novo mudar de assunto porque me ocorreu uma dúvida agora. Dentro deste contexto, qual a função da oração e da meditação?
MESTRE: Se bem utilizadas, se tornam poderosas ferramentas para direcionar o pensamento
NEÓFITO: Os oráculos também têm função similar?
MESTRE: Não, os oráculos são ferramentas que ajudam as pessoas que tem dons à entrar em contato com a Alma do Mundo e com o Inconsciente Coletivo.


Quarta Parte - Sobre a Ciência Sagrada, Ensinamentos e Métodos, sobre a Postura do Neófito e sobre a Introdução à Prática da Ciência Sagrada nos Rituais Cíclicos

Ainda que eu falasse
a língua dos homens,
que eu falasse
a língua dos anjos,
sem amor, eu nada seria.
(Paulo Apóstolo)



NEÓFITO: Qualquer pessoa pode ser iniciada na Ciência Sagrada?
MESTRE: Não. A pessoa que não está desperta e que é escrava de paixões inferiores, não pode ser iniciada, nem poderá ser, até que sua reforma interior esteja concretizada.
NEÓFITO: Que reforma interior?
MESTRE: A reforma dos conceitos interiores porque o homem que teme novas verdades e que não está disposto a duvidar de tudo antes de admitir algo ao acaso, que ama suas idéias e que se nega a abandona-las, não pode ser iniciado. Aquele que se sente ferido ao abordar os erros nos quais foi educado, que ama mais o mundo do que a divindade, a verdade, a justiça e a razão, jamais poderá ser iniciado na Ciência Sagrada.
NEÓFITO: E como se pode fazer esta reforma sem que seja orientado para isto?
MESTRE: A verdadeira Ciência Sagrada é passada nos níveis ocultos, mas normalmente existem níveis anteriores onde se realiza o trabalho da reforma interior abordando basicamente a compreensão interior e exterior.
NEÓFITO: Existem outros nomes que foram dados à Ciência Sagrada?
MESTRE: Nos últimos séculos, a Ciência Sagrada acabou recebendo nomes como Ciências Ocultas, Magia e Ocultismo
NEÓFITO: E Magia Negra também?
MESTRE: Não, a Ciência Sagrada nunca teve por nome Magia Negra. A Magia Negra à que você se refere é mais um grande dogma criado pelas religiões dominantes numa época remota para denegrir a integridade daqueles que praticavam cultos tidos como pagões por serem anteriores à era cristã.
NEÓFITO: Mas existe uma maneira de se usar a magia de forma maléfica?
MESTRE: Todas as vezes que você utilizar as energias disponíveis no universo para saciar o seu egoísmo e como instrumento da sua ganância, você estará indo contra a natureza das coisas que é o equilíbrio como eu já falei. O conhecimento da natureza quando manipulado por pessoas inescrupulosas pode vir à gerar desequilíbrios, assim como quando a ciência atômica foi utilizada por cientistas sem ética se tornou perigosa e beligerante. Na Ciência Sagrada se diz que existe uma ciência verdadeira e uma falsa e isto distingue o Adepto do charlatão, o Mago do feiticeiro porque o primeiro manipula energias que conhece, enquanto o segundo se empenha em abusar do que ignora, tornando-se assim o profanador da natureza.
NEÓFITO: E existe alguma forma de impedir que estas pessoas adquiram o conhecimento da Ciência Sagrada?
MESTRE: O método utilizado pela Ciência Sagrada para se perpetuar íntegra através dos séculos, de forma tão peculiar, busca avaliar o caráter e a personalidade daqueles que pretendem obter os seus conhecimentos, por isto são testados ao extremo durante anos. O ensinamento gradativo, no correr da vida alia-se à maturidade intelectual e emocional; só isto pode perpetuar a retidão e a disposição dos verdadeiros adeptos.
NEÓFITO: Quais são os princípios de vida que devem ser adotados por quem ingressa na Ciência Sagrada?
MESTRE: Aprender à se vencer porque somente assim poderá aprender a viver. Ao neófito é ensinado que ceder às forças da natureza é seguir a corrente da vida coletiva, é ser escravo de forças secundárias e isto também eu já expliquei.
É imperativo libertar-se das vicissitudes da vida e da morte e para tanto a única ferramenta, de que se pode dispor, é resistir a natureza e domina-la para que se possa construir uma vida pessoal imperecível. Isto só é possível com uma grande determinação da vontade aliada à um interesse inato pelas coisas divinas.
NEÓFITO: Como é feito o ensinamento ao Neófito?
MESTRE: Na Ciência Sagrada o ensinamento é sempre passado no encontro Mestre – discípulo. A Ordem Estrela Guia, como outras que seguem a estrutura tradicional, tem níveis iniciáticos que são galgados pelos neófitos segundo seu progresso na Senda Divina. As instruções tem por objetivo fornecer ensinamentos práticos e de acesso fácil aos neófitos, e são graduadas de modo que eles possam se elevar aos poucos, até o mais alto desenvolvimento mental, psíquico e espiritual.
NEÓFITO: Existem muitos obstáculos para uma pessoa comum que se torna um neófito?
MESTRE: Como eu disse ha pouco, para ser um neófito a pessoa precisa ter determinadas características, o que já a distingue das pessoas comuns. Mesmo assim, no inicio é comum surgirem obstáculos e empecilhos, mas logo desaparecem quando o neófito se fecha aos chamados do seu subconsciente. Enquanto o cérebro não está suficientemente adestrado, o subconsciente procura implantar na mente, idéias de bloqueios e fracasso, que se manifestam na vida pela força do pensamento.
NEÓFITO: Qual o objetivo que o neófito deve ter em mente?
MESTRE: O neófito deve sempre lembrar-se que está se preparando para ser um Mestre da Sabedoria e para tanto deverá trabalhar incessantemente pois, ainda que não esteja pleno de saber, as pessoas que buscam a Luz se achegarão à ele, desejando seus conhecimentos. Por isto é importante despertar os poderes interiores, dando-lhes os meios de se manifestarem, pois somente assim o neófito poderá se deleitar com o mínimo das forças e conhecimentos que estão à sua disposição.
NEÓFITO: E como ele pode alcançar isto?
MESTRE: Se for fiel ao ensinamento que irá receber, ser for persistente praticante dele, pouco a pouco os seus obstáculos irão desaparecendo. O neófito deve lembrar-se que dependerá sempre dos esforços próprios. Deve desenvolver as suas faculdades latentes, para poder alcançar o conhecimento total e a faculdade de despertar as forças que o rodeiam.
NEÓFITO: O mestre é o responsável pelo progresso do neófito?
MESTRE: O mestre não é o responsável pelo progresso do neófito; são os esforços do próprio neófito, sua vontade e sua fé aliadas à sua inteligência e perseverança que determinarão o seu progresso. Ao Mestre cabe somente ensinar, passar as instruções segundo o nível em que se encontra o neófito e segundo o seu progresso.
Se o neófito achar por bem sentar-se à beira do caminho e ficar se lamentando, o seu mestre o deixará pelo tempo que ele desejar porque o conhecimento das coisas sagradas deve ser buscado e não entregue. Ao Mestre cabe ainda apresentar o neófito, quando o julgar preparado, para que possa ser avaliada a sua ascensão ao nível subsequente de conhecimentos.
NEÓFITO: Para ser um neófito é necessário ter dons paranormais?
MESTRE: O neófito não precisa necessariamente ter dons paranormais desenvolvidos. Muitos neófitos despertam vários dons no curso da sua preparação, ao passo que, outros não desenvolvem dons, como se conhece normalmente, mas suprem isto com um afinco espetacular nas outras áreas do conhecimento.
NEÓFITO: Quais são os obstáculos comuns no inicio do caminho de um neófito?
MESTRE: Os obstáculos que normalmente mais dificultam o progresso do neófito, são as necessidades da vida material e os compromissos sociais que o impedem de dedicar–se completamente ao seu desenvolvimento. Contudo, se o neófito se entrega com tenacidade e perseverança ao cultivo de suas faculdades e à compreender os ensinamentos passados pelo seu Mestre, chega, certamente, a conquistar o poder maravilhoso de que dispuseram e dispõem muitos que vieram antes dele na senda da Ciência Sagrada.
NEÓFITO: Em tendo as características que a senhora disse serem necessárias e em vencendo as primeiras etapas do ensinamento, restará ainda algum obstáculo no início do caminho do neófito?
MESTRE: Como eu já disse, os primeiros passos daquele que pretende ser iniciado dizem respeito à sua reforma interior, por isto não acredito ser importante saber se aqui ou ali encontrará obstáculos, terá que supera-los sempre e com os ensinamentos o neófito será capaz de superar qualquer obstáculo, com exceção de dois que dependerão somente dele: Nunca duvidar da sua capacidade de desenvolver e aproveitar seus dons e energias como também nunca achar-se incapaz de concentrar-se. Estes não são obstáculos do caminho, são obstruções construídas interiormente.
NEÓFITO: A senhora me falou algumas coisas quando conversávamos sobre religiões mas gostaria de saber qual deve ser a postura de um neófito perante pessoas que tem outras convicções religiosas?
MESTRE: A postura de um neófito deve estar sempre baseada no respeito e ele não deve participar de discussões de qualquer espécie, muito menos religiosas. Se sente que não lhe perguntam com um interesse verdadeiro, não deve expor sua Fé, porque isto, nada acrescentaria, ao seu desenvolvimento nem ajudaria a alguém. Quando porem, for perguntado sobre sua Fé, ou achar conveniente e construtivo discorrer sobre ela, à pessoas honestas em seus princípios, estará prestando um valioso serviço à divulgação da Causa do Conhecimento, desde que não transgrida os Verbos Sagrados falando o que não convém ou o que não conhece em toda sua extensão.
NEÓFITO: Os mais elevados na Ciência Sagrada participam de que forma para a elevação da humanidade?
MESTRE: De muitas formas que não cabe citar aqui em detalhes, porem o trabalho universalista à que se dedicam os verdadeiros Iniciados e Iluminados em todo o planeta, não é senão oferecer resistência à todo tipo de cadeia magica que seja nefasta para a humanidade, opondo-lhe obstáculos para que minimize os seus efeitos ou mesmo conseguindo aniquila-las completamente. Outra faceta do trabalho é ampliar o nível de consciência da humanidade e combater os efeitos nefastos das correntes de pensamento inferiores.
NEÓFITO: Não poderia imaginar isto
MESTRE: Quase ninguém imagina tais coisas, mas é um trabalho magnificamente altruísta, que requer não somente profundo conhecimento e poder, mas dedicação e abnegação total.
NEÓFITO: Como entender o uso da Sabedoria se alguns dos ocultistas mais conhecidos levaram vidas bastante atribuladas?
MESTRE: É preciso que se descubra o que significa vidas bastante atribuladas, mas a consciência do poder individual e divino no homem e a inteligência aplicada na descoberta dos grandes segredos, são muitas vezes, suficientes para grandes espíritos.
Não se pode acreditar em todas as biografias, mas houveram muitas disposições de renuncia absoluta, necessárias para instaurar as cadeias magicas que visam alterar a face do campo vibracional da Terra.
Só para falar de poucos, Agrippa morreu pobre por não se curvar aos poderes estabelecidos, Jerôme Cardan morreu de inanição por exagerar na pratica do jejum enquanto Raimundo Llullio e Apolonio de Thiana levaram o rigor da vida ao mais exagerado ascetismo e a uma austeridade assombrosa.
NEÓFITO: Existe um sentimento em mim, com o qual luto freqüentemente, e que acredito que vá ser um empecilho à minha reforma interior, que é o fato de não conseguir perdoar, como posso fazer isto?
MESTRE: Não creio que exista perdão na acepção plena da palavra porque perdoar pressupõe esquecer completamente, o que ninguém consegue fazer, ainda mais se é algo desagradável. Acho que o que existe ou deve existir é a compreensão do ato. Muitas vezes pode-se chegar, através do raciocínio, às razões que moveram uma pessoa à tomar esta ou aquela atitude e por isto mesmo muitas vezes, em entendendo-se os motivos, pode-se compreender que naquelas circunstancias as intenções daquela pessoa não eram más ou a atitude que ela tomou era o que lhe restava fazer. Somente a falta de compreensão é sempre um obstáculo intransponível.
NEÓFITO: Como a senhora acha que devemos nos comportar frente à morte?
MESTRE: Frente à própria morte?!... com dignidade, com respeito porque uma porta se abre para a continuidade da nossa vida. Desejando que tenhamos vivido intensamente tudo quanto esta vida nos ofereceu. Basicamente acho que devemos ser dignos assim como quando nascemos. Morte não é descanso, não é libertação, não é o fim e muito menos fuga; morte é continuidade seja em que mundo for e da forma que for. Tudo continua e por isto acho que não devemos nos preocupar com a morte, devemos sim nos preocupar com a vida que já é grande e interessante por demais. Não devemos nos preocupar em saber porque estamos aqui ou porque temos esta ou aquela condição, afinal nada disto mudará o fato de estarmos aqui. Devemos viver o melhor que pudermos e assim poderemos morrer o melhor que pudermos.
NEÓFITO: Na natureza existem os quatro elementos?
MESTRE: Toda a natureza física é composta pelos quatro elementos básicos: Fogo, Água, Terra e Ar. Em tudo que existe no plano de existência física possui em maior ou menor proporção estes quatro elementos. No homem por exemplo o elemento água é o preponderante porem todos os demais fazem parte em maior ou menor grau, em todo o organismo.
Observe que apesar do nome Terra, o planeta em que vivemos é composto na sua maior parte, de água. Com os habitantes daqui não poderia ser diferente; a consistência e a resistência de um corpo material é, incontestavelmente, fruto da união harmônica dos elementos.
NEÓFITO: Posso entender então que existem planetas com outros elementos preponderantes?!
MESTRE: Exatamente, é só observar o nosso próprio sistema solar. E é importante notar, que por analogia, nos planetas onde existem outros elementos preponderantes, existe também a possibilidade de serem habitados por eventuais corpos ou roupagens que possibilitarão a manifestação dos espíritos no plano físico daquele planeta, seguindo a mesma orientação e tendo o mesmo elemento preponderante. Mas é importante compreender que mesmo tendo a água como elemento preponderante em nossos corpos, nem por isto eles são aquosos. Os elementos básicos da natureza são sutis, não podendo ser comparados com o que conhecemos.
NEÓFITO: E como agem estes elementos no plano físico?
MESTRE: Na composição de tudo quanto há no universo físico, e não por sobreposição mas por união e transmutação. Todas as coisas do plano físico são vivas e tudo mantém em si uma energia própria, uma arrumação molecular especifica que lhe dá as características próprias.
NEÓFITO: E se pode alterar esta arrumação molecular manipulando os elementos?
MESTRE: Creio que a própria ciência cartesiana responderia sim à esta pergunta mas à titulo alegórico vou contar-lhe uma estória que fala sobre guerreiros de uma determinada região da Ásia que tinham as melhores espadas, mais resistentes e cortantes. Com o passar dos tempos descobriu-se que o material que usavam na fabricação da espada era o mesmo que todos usavam e o que lhe emprestava as virtudes era na realidade a sua preparação num ritual específico que consistia em deixa-la incandescente numa fornalha e então faze-la penetrar lentamente no corpo de um escravo vivo. Muito mais tempo se passou e hoje este “ritual” é praticado por técnicos em metalurgia e recebe o nome de tratamento térmico. Variando a temperatura, o tempo de exposição e o tipo de resfriamento consegue-se dar propriedades não naturais a certos metais. O processo resume-se em alterar a disposição das moléculas que compõem o material e a eliminar as pressões internas provocada por esta alteração. Um mesmo material, exposto à determinadas condições termina por assumir características diferentes, some-se à isto a interação dos elementos básicos que o compõe e se poderá fazer qualquer coisa.
Mas os quatro elementos agem num plano acima das simples adaptações ou correções de disposições moleculares de um material, eles são a essência de todos os materiais no plano físico e o arranjo que com eles se pode fazer é infinito. Como eu disse, eles agem em todo o plano físico e até o clima ideal para a vida na Terra é ditado por eles.
NEÓFITO: Que relação os elementos tem com o clima?
MESTRE: Cada estação reflete as características do elemento preponderante em determinada época do ano. Outono, Inverno, Primavera e Verão são, nesta ordem, as estações climáticas durante o ano natural no hemisfério sul. É fácil de compreender que durante o Outono o elemento Ar é preponderante, no Inverno a Água, na Primavera a Terra e no Verão o Fogo. Desprende-se disto a compreensão de uma pequena regra: cada elemento tem seu elemento oposto e dois elementos de ligação sendo que um o antecede enquanto o outro lhe sucede.
NEÓFITO: Em Janeiro estamos no Verão, porque a senhora disse que o Outono é a primeira estação climática do ano?
MESTRE: Porque levamos em conta o ano natural e não o ano civil. O ano natural não inicia-se num dia fixo no calendário, inicia-se no dia em que o Outono começa no hemisfério Sul, que astrologicamente falando, é o dia em que o Sol entra em Áries, o primeiro signo.
NEÓFITO: E porque não se inicia num dia fixo do calendário?
MESTRE: Não se pode estabelecer um dia fixo devido à como foi construído o calendário que usamos. O calendário atual foi elaborado na vigência do papado de Gregório XIII. Como na época não se encontrou solução melhor, este calendário leva em consideração que o ano tem 365 dias. Contudo, como o ano natural tem, de fato, 365 dias, 6 horas, 9 minutos e 3,5 segundos, convencionou-se que à cada 4 anos, o mês de Fevereiro receberia mais um dia para compensar as 6 horas não computadas a cada ano e que o ano da correção se chamaria bissexto. Quanto aos 9,0583 minutos por ano, foi sumariamente desprezado, mesmo porque não havia outra solução, porem, desde a implantação do calendário atual, já acumula uma defasagem em torno de 60 horas ou 2 dias e meio.
NEÓFITO: Não sabia que o calendário tinha estes problemas
MESTRE: Nem sempre houveram calendários e os ocultistas estabeleciam as datas corretas com a observação dos astros, da natureza e de muitos cálculos. Mas tirando o fato de o Calendário Gregoriano ter estabelecido o inicio do ano civil por motivos religiosos numa época que nada tem haver com o inicio do ano natural, é o menos pior que a humanidade teve na idade moderna porque até esta época, o que existia era o calendário Juliano, instituído por Júlio César em 45aC e que, por sua vez, já era uma revisão do calendário romano que tinha somente dez meses com duração de 20 ou 55 dias.
NEÓFITO: Se não se pode olhar no calendário, como pode-se saber a data de inicio de uma nova estação?
MESTRE: Hoje em dia é mais fácil. Em qualquer livro de efemérides se pode ver quando o Sol entra em Áries, 90o depois ele estará entrando em Câncer e ai é o inicio do Inverno, Mais 90o e ele entrará em Libra e ai começa a Primavera e mais 90o inicia-se o Verão quando o Sol entra em Capricórnio.
NEÓFITO: Pelo que estou entendendo as estações são determinadas pelo método dos cálculos da astrologia.
MESTRE: É exatamente o contrario: a Astrologia foi elaborada observando-se o movimento dos astros e da Terra em torno do Sol, o que resultou num Ano Natural e nas Estações, foi nisto em que se basearam para estabelecer os graus da Astrologia. É preciso ainda que se diga que, centenas de anos depois, descobriu-se que as diferentes estações climáticas são determinadas devido ao plano do Equador terrestre ter uma inclinação de quase 24 graus[viii] em relação ao plano da órbita da Terra e é isto que, em conjunto com o movimento de translação e rotação, determina as estações. Isto não invalida em nada a Astrologia, pelo contrário, mostra quão aplicados nos cálculos eram nossos ancestrais.
NEÓFITO: Estávamos falando dos elementos da natureza e acabamos no calendário, na astrologia e na inclinação do eixo da Terra.
MESTRE: Aprendi com uma grande mestre que “Tudo é um Grande Eixo”. Tudo está relacionado, tudo é análogo em propriedades, movimentos e energia, porque tudo é emanado do mesmo Lugar.
NEÓFITO: Realmente estou descobrindo isto e já que tudo está relacionado, a senhora pode me falar onde se encaixam os rituais feitos no inicio das estações?
MESTRE: São chamados Rituais Cíclicos pelo motivo que você já conhece.
NEÓFITO: Então posso concluir que sendo o Outono uma época de muitos ventos, é feito um ritual para o elemento ar?
MESTRE: Nós não fazemos ritual para um elemento, fazemos rituais onde utilizamos as energias dos elementos porque eles não são “entidades” que podem ser invocadas para realizar nossos pedidos. Quanto ao tipo de ritual que fazemos, é estabelecido e alicerçado na Lei dos Opostos, assim, se temos o elemento Ar preponderante no Outono, faremos um ritual onde uniremos a força do elemento preponderante à do elemento que lhe é oposto, que no caso é o elemento Terra Convencionamos chamar os que acontecem no outono de Ritual da Terra, no inverno de Ritual do Fogo, na Primavera de Ritual do Ar e no verão de Ritual da Água.
NEÓFITO: Porque se usa forças opostas?
MESTRE: Porque assim geramos o equilíbrio.
NEÓFITO: E nestes rituais o que se pretende é estabelecer o equilíbrio destas forças?
MESTRE: Existem sentidos ocultos que não poderei revelar mas no tocante ao plano íntimo da pessoa que faz o ritual, o que se pretende é o equilíbrio energético. Já no tocante às realizações, o equilíbrio é uma das etapas que devemos estabelecer porque qualquer ação só pode existir na proporção direta da resistência oferecida.
NEÓFITO: No caso de se pretender uma realização como podemos usar o equilíbrio ou a resistência?
MESTRE: No plano das realizações, se pararmos na resistência, não teremos movimento, e como o que pretendemos é utilizar estas energias para um propósito, necessitaremos de uma terceira energia, o veículo que dará movimento às duas primeiras. Só assim estará satisfeita mais uma regra básica da pratica da Ciência Sagrada: A Trindade.
NEÓFITO: E qual é este veículo?
MESTRE: O veículo que imprime uma direção e um movimento às energias opostas é o fluido vital daquele que realiza o Ritual. Sua Força Espiritual, aliada à sua Fé indestrutível e à sua Vontade inquebrantável é o que gera o movimento das forças até então em equilíbrio. Assim também o veículo satisfaz de novo o princípio da Trindade.
NEÓFITO: Em tudo se usa este princípio?
MESTRE: Não poderei me alongar nos princípios mas você pode fazer uma analogia que lhe demonstrará vários sentidos dos princípios aplicados.
A união das duas forças é a união do um com o dois para formar o três, ou seja, a força do elemento preponderante mais a força do elemento oposto geram o equilíbrio assim como as Virtudes impressas na Vontade e na Fé, geram o veículo do fluido vital que imprime movimento. É fácil concluir que a união destas duas trindades cria o quatro que é a realização, ou seja, O equilíbrio conduzido pelo fluido vital que é seu veiculo somado à direção dada pelas virtudes, geram a realização. Poderíamos expressar da seguinte maneira: Elementos + Fluido + Virtudes = Realização
Podemos sintetizar a idéia dizendo que duas forças que se sustentam mutuamente através de sua tendência em sentido contrario, quando impregnadas pelas virtudes e dirigidas pelo fluído vital, resultam em quatro movimentos na natureza das coisas.
NEÓFITO: Quatro movimentos na natureza das coisas?
MESTRE: Sim porque agem em todos os planos de existência, seja físico, mental, emocional ou espiritual, devido àquela lei da energia reflexa da qual falei antes.
NEÓFITO: Achei bastante complexo mas certamente terei tempo para compreender melhor. Existe um intuito, algo especifico, que se possa pretender realizar através destes rituais?
MESTRE: Poderia explicar diretamente mas uma alegoria pode ser de grande utilidade. Observando as estações, os elementos preponderantes e a natureza, certamente se pode chegar à duas conclusões básicas sendo uma evidente que certamente não lhe servirá neste plano de idéias e a outra oculta que se encaixará perfeitamente nas realizações que se pode pretender nos ciclos naturais. Fazendo uma analogia podemos concluir que, sendo o outono a estação dos ventos, esta época nos sugere:
1o) Que é uma estação arejada por causa dos ventos e que as árvores ficam com poucas folhas, e que também muitas doenças são trazidas pelos ventos.
2o) Que o pólen é carregado pelo vento e depositado em outras terras para florescerem no futuro o que representaria a multiplicação infinita da natureza das coisas, a eterna fecundidade da Terra.
NEÓFITO: Compreendi que se for assim, então no outono seria a hora de lançarmos as sementes das nossas realizações pretendidas?!
MESTRE: Exatamente e para isto ele precisa de ambas as forças, tanto o Ar quanto a Terra. Esta é a linha de raciocínio de um neófito, ele procura sempre o sentido que permanece oculto por trás do sentido evidente que todas as pessoas percebem. Como você entendeu o sentido do que eu disse, adianto os sentidos ocultos das outras uniões subsequentes. No Inverno faz-se o Ritual com as energias do elemento Água e do Fogo, porque a semente somente poderá brotar se houver equilíbrio entre um que a alimentará e o outro que a manterá aquecida e eliminará a possibilidade de ser afogada. Um pequeno desequilíbrio e a semente não brotará. Na Primavera o elemento preponderante é a Terra onde a semente lança as raízes que a sustentarão e o elemento oposto é o Ar que suprirá a pequena planta de luz e energia. Nesta época ocorre o florescer, o desabrochar de uma nova vida, uma nova realização da natureza. No Verão o elemento Fogo proverá o aquecimento externo que gerará força e vigor externo enquanto a Água a irriga interiormente à partir das raízes.
NEÓFITO: Posso imaginar que caso eu deseje realizar algo usando as energias reunidas num destes rituais, eu devo seguir esta linha da analogia: No Outono a idéia ou projeto é iniciado, no inverno devo propiciar vida para o projeto, na primavera devo ver florescer os primeiros frutos e no verão a idéia se fortalece. É isto?
MESTRE: Em linhas gerais é este o sentido do que falei mas há nuançes que o tempo lhe ensinará.
NEÓFITO: Quando se pretende uma realização sempre se necessita dos quatro ciclos?
MESTRE: Pode ser que a realização pretendida seja somente superar um obstáculo, uma realização pequena, então talvez você não precisa de um ciclo inteiro, ou seja, quatro rituais durante um Ano Natural.
NEÓFITO: E para realizações que demandam maior esforço, precisaremos talvez de mais de um ciclo?
MESTRE: Para realizações vultuosas, que pretendam transformar a natureza de quem deseja a realização, que transmute estruturas profundas, às vezes é necessário mais de um ciclo. Mesmo porque neste período a Vontade e a Fé estarão operando sobre quem deseja transmutar, como já falei quando você me perguntou sobre o Adestramento do Pensamento. Por outro lado, é necessário o conhecimento da natureza intrínseca de cada elemento para possibilitar a realização em etapas perfeitamente harmonizadas com a natureza das coisas.
NEÓFITO: Qual é a natureza intrínseca à cada elemento?
MESTRE: À cada um dos elementos, duas propriedades são inerentes, sendo uma dele próprio e a outra, o seu meio de ligação com o elemento seguinte. O Fogo é quente e seco, a Terra seca e fria, a Água fria e úmida e o Ar úmido e quente. Desta forma os elementos opõem-se uns aos outros conforme duas qualidades contrárias e diferem ainda porque dois são pesados e dois leves em suas representações perceptíveis, por isto mesmo, os pesados são chamados de passivos enquanto aos leves chamamos de ativos. Daí e do que eu disse antes à respeito da natureza do mundo físico, se desprende que existem épocas propícias para iniciar qualquer atividade, épocas em que devemos fomentar o crescimento daquilo que foi previamente plantado, e assim por diante. Em linhas gerais, a operação com os elementos pode nos ser propícios nos três aspectos do homem: no físico, no emocional e no intelectual.
Terra: Prosperidade, Segurança interior, Tomada de consciência de integração com a humanidade.
Fogo: Emprestam sua energia aos projetos, Auxiliam à eliminar os rastros fluídicos negativos e propiciam a elevação da consciência cósmica.
Ar: Aceleração as idéias e projetos pessoais, Auxiliam na transmutação emocional e transportam os pensamentos nefastos.
Água: Limpam e purificam o corpo físico, representam o amor que à tudo preenche, Promovem o aumento da intuição.
NEÓFITO: Realmente é fascinante a teoria e as analogias que podemos fazer. Terei que mudar completamente a minha idéia que sempre fiz de um ritual.
MESTRE: Infelizmente, são as pessoas que desconhecem a arte pratica da Ciência Sagrada, que terminam fazendo a idéia de que ritual é fruto de uma religiosidade impensada e incoerente.
A Ciência Sagrada é o que o próprio nome já diz: É estudo das coisas divinas, o conhecimento da natureza primeira de todas as coisas e a arte de manipular as energias de forma que o homem possa se tornar o artífice da Natureza e não o seu profanador. Isto em nada se parece com coisas possíveis de serem realizadas por fanáticos e insensatos.
NEÓFITO: Gostaria de fazer perguntas que podem dar uma conotação de curiosidade mas que poderão me ajudar a ampliar minha compreensão. Posso faze-las?
MESTRE: Pode perguntar o que quiser, primeiro porque nossa conversa está acabando e segundo porque em nossos próximos encontros não trataremos de tantos assuntos ao mesmo tempo; nestes estudos é preciso profundidade, perseverança e paciência.
NEÓFITO: No entender da senhora, a Terra é o lugar mais evoluído do universo?
MESTRE: Existem outros mundos mais evoluídos, tanto materiais quanto imateriais e acredito já ter falado sobre isto.
NEÓFITO: Então a senhora acredita que exista vida em outros planetas ?
MESTRE: Sem sombra de dúvida, nada nos indica que a Terra é o único planeta habitado no Universo.
NEÓFITO: E estes seres poderiam ser como nós?
MESTRE: Como nós espíritos é claro que sim, eles são espíritos como nós. Quanto ao aspecto do corpo físico, existem possibilidades de haverem planos de existência física com as mesmas características e portanto corpos também similares aos que existem na Terra, mas não creio que devamos nos preocupar com isto, o certo é que existem espíritos como nós, habitando locais diferentes e por isto, com roupagens adequadas e adaptáveis à estes locais.
NEÓFITO: Mas a senhora acredita que eles possam vir até aqui?
MESTRE: Porque não? Muitos espíritos em todo o Universo, inclusive podemos encontrar muitos na Terra, dispõem de um alto controle psíquico e viajam na velocidade do pensamento que é superior à velocidade da luz, outros viajam em veículos com tecnologia parecida com a que pode ser encontrada aqui na Terra.
NEÓFITO: A senhora acredita que existiram civilizações mais desenvolvidas que a nossa aqui na Terra?
MESTRE: Acredito que não fomos a única civilização na Terra e que algumas detinham grandes conhecimentos e disto existem, ainda hoje, muitas evidencias.
NEÓFITO: Parece-me mais ficção cientifica.
MESTRE: A ficção cientifica muitas vezes, e por razões que não nos cabe discutir agora, se aproxima do limite da realidade perceptível e algumas vezes invade um espaço diverso do que é conhecido, estarrecendo a todos.
Para você ter uma idéia, Morgan Robertson, escritor de ficção cientifica norte americano, descreveu em 1898, o naufrágio de um navio enorme, durante sua primeira viagem numa noite de Abril. Este navio fictício deslocava 70 mil toneladas e 3000 passageiros nos seus 800 pés, e para propulsar tudo isto, tinha 3 hélices. Chamava-se Titã.
Em 1912, medindo 828½ pés, deslocando 66 mil toneladas e exatos 3000 passageiros, naufragou um navio nas mesmas condições, tinha três hélices e a tragédia se deu numa infeliz noite de Abril. O navio chamava-se Titanic.
Você pode imaginar de que maneira, tantas “coincidências” podem acontecer?
NEÓFITO: É muito interessante... chega mesmo à ser assustador.
MESTRE: Sei o quão chocantes são os fatos para os quais as explicações se negam à aflorar, até que interesses escusos acham uma explicação positivista, como diria Charles Fort [ix], o criador de um estilo que ficou conhecido como Realismo Fantástico. No caso do Titã qualquer uma serve, até desautorizar o original e dizer que foi um embuste escrito, à posteriori, por, supostos e invisíveis, aproveitadores de uma causa também invisível.
NEÓFITO: O problema é saber o que é realidade e o que nós não percebemos mas mesmo assim continua sendo realidade.
MESTRE: Charles Fort, sacudiu sua época dizendo que vivemos numa Quase-Realidade – um estado intermediário apoiado pelo positivismo dos cientistas e governantes. Depois passa a mão por sob a cabeça dos cientistas positivistas e afaga-as, dizendo que o problema é definir uma coisa completamente. E nos pergunta: O que é uma casa? – e continua - Se uma residência é uma casa, temos que admitir que, de uma maneira geral, uma casa é um alojamento para proteger a vida dos seus habitantes, então uma estrebaria é uma casa assim como um ninho ou uma concha são casas, se habitadas por cavalos, pássaros ou por um caranguejo respectivamente. Este é o problema da realidade – como a definimos – porque ela pode ser colorida para você ao passo que é cinza para um cachorro. Não se consegue definir o que seja realidade nem no tocante à tecnologia de que dispomos. Liga-se um microondas que, sem fogo, aquece a água mas não aquece o recipiente – uma poderosa energia capaz de mudar os estados da matéria sem que possamos vê-la – mas mesmo assim as pessoas usam-na sem se preocupar com o que venha à ser, sem desconfiar os princípios que a regem. E assim existem muitas outras tecnologias que se transportadas para uma aldeia totalmente selvagem, pode virar objeto de culto religioso. Não é vergonha não saber as coisas. Conheço pessoas que estão até hoje chocadas com o aparelho de fax. Seu raciocínio compreendia o telex, no qual os impulsos elétricos furavam uma fita que depois era decodificada e virava um texto, assim como o código morse, mas não conseguem compreender o resto.
Acho que não precisaríamos nem ir tão longe, a maioria das pessoas não conhece à si próprio no entanto pretende ser detentora de todos os mistérios do universo; não conhece os chakras, canais de energia que atuam na interação energética das diversas naturezas do ser humano mas ousa definir-se como a civilização mais avançada do universo.
NEÓFITO: Por isto fiz aquela pergunta sobre a existência de outras civilizações.
MESTRE: Há estudos em diversos setores da ciência que datam o nascimento da Terra ao mesmo tempo em que foi criado o universo, algo torno de oito milhões de anos e o nascimento do homem como o conhecemos ha 75 mil anos. Vários institutos respeitados no mundo inteiro fizeram pesquisas e constataram evidencias disto e de outros fatos não menos interessantes como as vitrificações do solo no deserto de Gobi, semelhantes as que são produzidas por explosões atômicas. Descobriu-se vários mapas em diversos pontos da Terra, alguns com mais de dez mil anos, que foram estudados e extremamente avaliados pelos melhores especialistas que temos. São mapas que contem dados sobre o relevo, a localização de lagos e montanhas, o traçado da costa e muitos outros de todos os continentes da Terra. Outros mostram as constelações e o transito dos planetas há treze mil anos atrás.
NEÓFITO: É incrível
MESTRE: É uma pena que as pessoas não tenham interesse nestes assuntos pois certamente seria de grande importância para o seu despertar. O Populvuh, livro sagrado dos Quichés, que moravam na América muito antes de Colombo por aqui chegar, diz para quem quiser saber que “Os da primeira raça eram capazes de tudo saber. Examinavam os quatro cantos do horizonte, os quatro pontos da abóbada celeste e a superfície redonda da Terra.” As obras hindus Ramáiana e Maabárata descrevem meios de transporte aéreos que se assemelhavam a “um globo luminoso que brilha como o fogo (...) que uma força etérea fustiga quando parte, proveniente de uma força invisível...”. Em obras de mais de três mil anos, o material de que eram feitos estes meios de transporte é descrito como sendo “vários metais, uns brancos e leves, outros vermelhos”. Vários textos da bíblia também parecem remontar à esta época, pois falam de seres tal como Enoch que desapareciam em misteriosas arcas para retornar ao céu. Na Mausola Purva, pode-se ler que “Cucra, voando num vimana potente, lançou sobre a tríplice cidade um projetil carregado com a potência do universo. Uma fumaça incandescente como dez mil sóis se elevou no seu esplendor(...)”.
NEÓFITO: Realmente são coisas que deixam qualquer um estupefato.
MESTRE: Quando falamos que a verdade reside em todos os lugares, em todas as regiões e todas as civilizações, é porque em todos os lugares se encontram vestígios disto, mas paremos com este assunto porque o nosso tempo se esgota e isto será ainda objeto de muita pesquisa por sua parte, contudo gostaria de terminar com um texto de J.Berguier e L.Pouwers: “Se existiram na noite dos tempos, civilizações edificadas sobre um sistema de conhecimentos, também houve manuais. (...) Não está posto de parte que alguns desses manuais, ou fragmentos, tenham sido novamente descobertos, piedosamente conservados e indefinidamente recopiados por monges cuja tarefa era mais salvaguardar do que compreender. Indefinidamente recopiados, fantasiados, transpostos, interpretados, não em função desses conhecimentos antigos, altos e complexos, porem em função do limitado saber da época.. (...) Sagrada é a aventura indefinidamente recomeçada e no entanto indefinidamente progressiva da inteligência sobre a Terra. E sagrado é o olhar que Deus lança sobre esta aventura, o olhar sobre o qual se encontra suspensa essa aventura.”




Considerações Finais


Se desejas acertar melhor no alvo,
procura a Deus em teu coração;
não saias fora de ti,
porque ele está mais perto de ti
e mais dentro de ti que tu mesmo”.
(Sta. Teresa de Jesus – 1515/1582)



Todas as pessoas devem amar a vida e as possibilidades infinitas que todo Ser possui. Tendo vida, tem-se possibilidades infinitas e em tendo-se uma vida eterna, podemos evoluir sempre. Que importa para que e porque se o anseio de despertar para uma nova realidade é algo que surge sem que o busquemos. As respostas surgirão no decorrer do caminho, o sentido só aparece quando a pintura é realizada assim como na vida; o viver é a revelação e nada existe em sentido e em conteúdo se abstemo-nos de participar ativamente desta aventura.
A sabedoria não está encerrada em bibliotecas, nem em museus finos, ela está em todos os lugares, em todas as pessoas e em todas as épocas. Seus disseminadores, os mestres, se passam por pessoas comuns que, quase sempre, alternam estados em que ficam envoltos em seus próprios pensamentos, com outros em que se tornam comunicativos e exultantes com as alegrias e o prazer da vida. São pessoas que muitas vezes, gastam tudo quanto possuem com livros, café forte, viagens à locais que somente eles conseguem perceber e com as pessoas que o cercam. Esperam sempre quem deseja verdadeiramente aprender porque, o que escapa à compreensão da maioria é que, um lago não se satisfaz se não alimenta pequenos riachos porque só assim sua água é sempre renovada, viva e forte, somente assim sua água encontra e retorna ao insondável oceano universal. Os verdadeiros mestres não são os que omitem seu saber mas sim os que alimentam os outros de saber. Existem métodos que ninguém pode transgredir, por serem os mais corretos, porque o poder não se ensina por livros, contudo, pequenas palavras esparsas numa conversa podem ser uma luz no caminho daquele que verdadeiramente anseia pelo saber, pode ser o princípio do seu despertar.
Os verdadeiros ideais cósmicos tem sido paulatinamente engendrados na humanidade, visando ampliar a consciência geral, alterando e amenizando os estados de desequilíbrio e potencializando a energia do Amor, esta força Divina, criadora e modificadora, raiz e fim de todas as coisas
Se excessos tem sido cometidos isoladamente por pessoas que tentam aplicar um misto de neopaganismo aliado à uma miscelânea de conceitos das mais diversas origens, também muita coisa sã alcançou o homem moderno. Em termos de transmutação temos que compreender que algumas etapas incluem processos de morte interior e putrefação, e que somente através disto se pode ver sublimado o Perfeito Saber.
É hora de cada um assumir a sua parcela de responsabilidade na elevação do padrão de consciência da humanidade, mas é preciso que saibamos que isto não é devido à passagem do milénio, nem a era de aquário, nem porque alguém vem resgatar a humanidade. Temos que fazer porque de tempos em tempos um salto gigantesco deve ser dado para que possamos auferir as melhores coisas que o universo pode nos oferecer. O que deve vir primeiro, o começo de tudo, é transformar à si mesmo. A Fé e a Ciência deram-se as mãos quando ainda nem uma nem outra tinham estes nomes, e até hoje brilham em todo o mundo, pelo trabalho incessante de bravos guardiões que não sentem sua missão como um jugo, antes, renovam o seu compromisso com a Verdade e vão à frente com a lanterna que anuncia os novos tempos.
Não é obra de poucos anos, nem de muitos séculos, mas isto não importa aos puros de coração, porque quem se põe no caminho jamais retrocede, jamais se abate, porque tem a certeza da Eternidade, do Espirito e da Divindade. O que não é mais conveniente é a aceitação e a proliferação do fatalismo e das limitações, que cerceiam os direitos naturais dos espíritos e lhes cria mundos imaginários de recompensas e culpas eternas. A Obra é silenciosa e não usa a intolerância e a ignorância como instrumentos, não condena nem se opõe; trabalha e trabalha somente, sua perspectiva de tempo nunca acaba, é sempre eterno, e o objetivo genuíno que a move, sua esperança, seu fim, seu ideal e seu objetivo é corrigir desequilíbrios e desvios.
Por isto, acredite sempre na generosidade da Vida e nunca imagine-se saciado de Saber. Ame a vida e a faça o mais agradável possível, tanto para você como para os outros, porque é através da sua vida em todos os seus intermináveis capítulos que você poderá alcançar uma condição mais perfeita.
Desejo que os seus objetivos sejam sempre verdadeiramente elevados porque esta é a única condição para se progredir em compreensão e em amor.
Por fim, espero que você compreenda que a Fé que professo não é a religião do desespero por não termos um Deus pessoal, por não acreditarmos em penas impostas pela Divindade nem que esta nos salve, nem se satisfaça ou se importe com coisas pequenas na grande cadeia de Vida Eterna. Temos ao nosso lado um Deus que vive em tudo e vive eternamente, temos ao nosso lado a, sempre renovada, possibilidade do espirito despertar para as coisas Divinas e, não bastasse isto, temos tudo quanto nosso Deus Impessoal dispôs na natureza do Universo, de modo que todos espíritos, sem exceção, pudessem saciar suas necessidades e ansiedades e, mais do que qualquer dogma, temos conosco a Liberdade.
Com isto encerramos nossa conversa. Tenho certeza que demos uma pincelada em vários assuntos e que você terá muito o que pensar. Espero encontra-lo em breve para que possamos dar continuidade à sua real reforma interior.

Sobre a Autora
Carmem Paiva, nascida em Sao Paulo, foi precoce desde a infância, tomando contato com sua paranormalidade quando ainda era uma criança. Iniciou o desenvolvimento dos seus dons aos 13 anos de idade e atualmente é Grã Mestre da Luz Superior (GMLS) da Ordem Estrela Guia, nível hierarquico que é o topo da religiao iniciática que ela mesma fundou e dirige.
Terapeuta Holistica há mais de 20 anos, tem suas técnicas terapêuticas reconhecidas mundialmente e tambem pelo Conselho Federal de Terapias Holisticas e pelo Sindicato de Terapeutas do Estado de São Paulo. Wicca por consequencia, é Sacerdotisa Maior da Irmandade Wiccana Normania.
Devido aos compromissos com a Ordem Estrela Guia, atualmente somente se dedica à esta como Superior Maior, coordenando todas as atividades da mesma e de seus mestres e neófitos, bem como escrevendo todos os livros utilizados pelos níveis ocultos de iniciaçao.

Posfácio da Primeira Edição
A Ordem, ganha como instituição com a obra de nossa Venerável Grã Mestre Superiora [x]. O Diálogo de Luz é um paradigma de fundamentação teórica e prática onde se fazem sentir as particularidades superiores de quem é idealizadora e realizadora inconteste da Grande Obra.
Estamos honrados com este maravilhoso livro que sintetiza princípios que muitos, mesmo dentre os nossos, não conseguem sequer traduzir em palavras tartamudeadas. Apesar disto, mesmo muito desejando, não teríamos qualquer forma de endossar este sublime trabalho porque seria como se a criatura ousasse aprovar o Criador. Somente podemos louva-la e reverencia-la em tudo que representa, em tudo que transcende nossa compreensão pois que é o nosso aprendizado, é nossa luz e nosso saber, pois é dos mais altos patamares que nossa Grã Mestre Superiora emana tudo que nos alimenta, nos desperta e nos ensina, com sua disposição incomum e sabedoria invejável.
Nossa Ordem cresce linearmente com cada Companheiro que se junta aos nossos quadros mas se multiplica exponencialmente com as maravilhas realizadas por nossos Superiores, fiéis interpretes da Verdade, que não descansam nem interpõem obstáculos à Realização Plena, que nunca vêem à si, senão através do benefício proporcionado aos outros.
Com este livro, nossa tarefa, que é a de divulgar o conhecimento permitido, se torna extremamente mais fácil, e endosso mais importante não poderia haver. Há quase vinte anos aprendendo com esta inigualável mestre, não poderíamos supor que existisse, alem de todas as outras sem exceção, mais esta excelente maneira de traduzi-los. Conciso, enxuto, eficaz e direto, o texto nos prende até que viremos a ultima página e desejemos de novo lê-lo e, à cada vez que repetimos a operação, novas verdades se desprendem das folhas como à nos indicar que de fato esta é uma obra imortal e imprescindível assim como sua escritora para nossa Ordem.
Por tudo que nossa Venerável Grã Mestre Superiora representa e que não saberíamos expressar sem nos estendermos até o limite do excesso, queremos deixar registrado nosso agradecimento e orgulho por esta obra.
São Paulo 02 de Junho de 2002

Ordem Estrela Guia
Secretaria de Divulgação do Conhecimento
Cav.P.º T
Notas:

[i] Evangelho Segundo o Espiritismo (ESE) pg 36
[ii] A Chave da Teosofia , pg. 188 – H.P.Blavatsky
[iii] Destinação da Terra – Causa das misérias humanas (ESE pg34)
[iv] Não citarei a religião à qual ela pertence porque isto acontece em quase todas
[v] Os Atos de São João faziam parte de um conjunto de obras usadas pelos Maquineus no fim do sec. IV, em substituição aos Atos Canônicos dos Apóstolos. Há indícios de terem sido escritos por um autor de nome Leucius Charius, em Edessa, no fim do sec. II dC. Leucius viveu na Síria e teria sido discípulo de João.
[vi] ESE - Capitulo 2 – Meu Reino não é deste mundo
[vii] ESE pg 43
[viii] 23o 27’
[ix] Autor de The Book of the Damned - 1901
[x] Nível no qual a autora se encontrava quando do lançamento do presente livro

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